A transparência cobrada por Moro vale para os outros, para ele não
Ex-juiz se diz perseguido porque o Tribunal de Contas da União quer saber quanto ele ganhou como advogado de empresas
atualizado
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Seguramente, “corrupção” foi a palavra que mais saiu da boca do ex-juiz Sergio Moro na época em que ele comandava a Operação Lava Jato. Depois dela, “transparência” é uma boa aposta.
Em 2016, Moro quebrou os sigilos de Lula e de sua empresa de palestras para saber quem o remunerava. Explicou que era necessário ter transparência.
Por transparência, divulgou conversa telefônica entre Lula e Dilma Rousseff na qual a ex-presidente convidava Lula para chefiar a Casa Civil da Presidência da República. Moro autorizara o grampo.
Ocorre que o grampo se estendeu para além da hora determinada por ele. “Não havia reparado antes, mas não vejo maior relevância”, ele disse. A Justiça reparou e repreendeu-o.
Moro justificou-se: “A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras”.
A poucos dias do primeiro turno da eleição de 2018, Moro levantou o sigilo sobre a delação premiada de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. Mais tarde, a delação revelou-se mentirosa.
Moro disse: “Publicidade e transparência são fundamentais para a ação da Justiça e não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção”.
Ontem, porém, ele chamou de abuso a cobrança feita pelo Tribunal de Contas da União para que revele quanto recebeu de salário da Alvarez & Marsal, escritório de advocacia norte-americano.
A Alvarez & Marsal atuou em processos de recuperação judicial de empresas investigadas pela Lava Jato. E Moro foi seu empregado até outubro último, quando saiu para entrar na política.
Pré-candidato a presidente da República pelo PODEMOS, Moro afirma que a tentativa de investigar sua atuação no setor privado é uma forma de perseguição:
“Querem dar um recado, e esse recado não é para mim, é para tudo quanto é juiz, procurador e policial. ‘E se você vier atrás de mim por corrupção você vai enfrentar as consequências porque eu vou atrás de você’. É isso que estão querendo fazer.”
“Eu sou o único cara desses daí [pré-candidatos à Presidência] que pode falar ‘eu combati a corrupção’. E estou sofrendo. É pura perseguição porque o cara não tem nada para falar do que eu fiz e fica inventando um monte de maluquice.”
O PT e o Centrão juntaram-se na Câmara para criar uma CPI que investigue as relações trabalhistas entre Moro e a Alvarez & Marsal. O ex-juiz está furioso.
O Tribunal de Contas da União analisa se atos de Moro como juiz fragilizaram a situação econômica de empreiteiras socorridas, anos depois, por um escritório de advocacia em que ele foi trabalhar.
Moro promete revelar quanto ganhou, mas não agora. Só quando apresentar sua declaração de bens à Justiça Eleitoral. No caso dele, portanto, a transparência pode esperar.