A Operação Tabajara que só poderia dar no desastre que deu
O que falta revelar para que a Justiça comece a julgar os criminosos?
atualizado
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No que poderia dar um golpe com minuta, mais de uma, submetidas a acirradas discussões; reunião ministerial para escolher qual seria a melhor oportunidade de aplicá-lo; e encontros no palácio presidencial onde aos comandantes militares foram servidos três pratos: golpe de um jeito, de outro e de outro, do qual mais gostaram?
Reunião ministerial, a de 5 de julho de 2002, a três meses das eleições, lembre-se, gravada em vídeo por ordem do presidente da República, para o quê? Encontros com comandantes militares na esperança de convencê-los a aderir (emissários não poderiam tê-los sondados com discrição para que o presidente não se expusesse tanto?).
Por que justificar o golpe pretendido com a desculpa canhestra e desnecessária de que ele seria dado “dentro das quatro linhas da Constituição?” Quem seria tão idiota para acreditar numa coisa dessas? Golpe é golpe, ora. A Constituição não previu golpe. A democracia é uma das cláusulas pétreas da Constituição.
Cláusula pétrea quer dizer que o que ela determina é irrevogável, ponto final. Uma vez que deixa de ser, é porque a Constituição foi rasgada e tudo se tornou possível. Aconteceu, por exemplo, em 1964 quando o golpe que suprimiu a democracia para salvá-la do comunismo pariu uma ditadura, primeiro, envergonhada, depois escancarada.
Uma ditadura que torturou, matou, desapareceu com corpos, suspendeu direitos civis, cassou mandatos, fechou o Congresso e censurou a imprensa a pretexto de purificar a democracia e restaurá-la no futuro – muito mais forte e saudável, o que faria dos brasileiros um dos povos mais felizes do mundo. Fracassou.
A tentativa de golpe de 64, prestes a completar 60 anos no próximo dia 31 de março, foi meio atabalhoada. Não havia data marcada, e os líderes do golpe achavam que era preciso dar mais algum tempo para que se tomasse outras providências. Mas o general Olímpio Mourão, em Juiz de Fora, resolveu pôr as tropas nas ruas e assim foi.
Deu certo o que poderia ter resultado numa “Operação Tabajara”, expressão que não existia àquela época. Passou a existir com o já extinto programa “Casseta & Planeta, Urgente!”, da TV Globo, que popularizou o termo com a criação das “Organizações Tabajaras”, uma sátira pejorativa dos comerciais de produtos na televisão.
“Operação Tabajara” cai como uma luva no golpe planejado por Bolsonaro, o que mais forneceu provas sólidas e indesmentíveis para condenar seus participantes. Tinha tudo para dar errado, e deu errado, facilitando o trabalho de investigação da Polícia Federal. O que falta ser revelado para que a Justiça comece a julgar os criminosos?