A noite dos punhais afiados pode consolidar a vitória de Pacheco
Traição vale para um lado, mas também para o outro
atualizado
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Dá-se por certo, a julgar pelo que se posta nas redes sociais, que cresceu a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado, e que ela poderá, no limite, derrotar logo mais no início da noite a de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Marinho é apoiado por Bolsonaro, que direto dos Estados Unidos pediu votos para ele. Pacheco é apoiado por Lula, que pôs todo o seu governo à disposição para elegê-lo. É um clichê chamar de “noite dos punhais” a que antecede o dia de eleições no Congresso.
Vá lá. Só que ela, na maioria das vezes, não produz surpresas. De resto, traições não favorecem apenas o candidato que se propõe a derrotar o favorito; favorecem em vários casos o favorito. É o que registra a história das eleições no Senado e na Câmara.
Renan Calheiros (DEM-AL) foi derrotado por David Alcolumbre (União-AP) para presidente do Senado em 2019. Severino Cavalcanti (PP-PE) derrotou Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para presidente da Câmara em 2005. Duas zebras à sua época.
Para se eleger, Alcolumbre, um desconhecido, pegou carona na onda bolsonarista. Sua vitória encerrou uma hegemonia de 18 anos do MDB no comando no Senado – o último político não emedebista a se eleger foi Antônio Carlos Magalhães (PFL) em 1999.
Greenhalgh só perdeu porque o PT disputou a eleição no primeiro turno com dois candidatos – ele, o oficial, e Virgílio Guimarães (PT-MG), o avulso. No segundo turno, Greenhalgh teve menos votos que no primeiro, e a onda anti-PT elegeu Severino.
Alguém viu Alcolumbre por aí? Esconderam-no porque, como cabo eleitoral de Pacheco, estava provocando uma sangria de votos a favor de Marinho. Alcolumbre é candidato a presidente do Senado em 2025. E deixou de ser bem-visto entre seus pares.
A última de Alcolumbre, com o consentimento de Pacheco, foi apropriar-se de parte do antigo gabinete da ex-senadora Simone Tebet (MDB-MS) para ampliar o seu. O gabinete dele, hoje, é maior do que o gabinete do presidente do Senado.
É fato que Marinho, hoje, tem mais votos do que há uma semana, e que Pacheco não terá os 57 votos que conseguiu para se eleger presidente do Senado há dois anos. Aliados de Marinho admitem que Pacheco vencerá com 46 a 49 votos de um total possível de 81.
A não ser… A não ser que a madrugada finda, ou o dia que mal começa, os surpreenda com uma vitória que parece improvável. Na madrugada, e até o último instante, operadores do governo tudo fizeram e farão para aumentar a vantagem de Pacheco.
O apoio de Bolsonaro carimbou Marinho como candidato da extrema-direita. Quer Marinho queira ou não, é o que ele acabou se tornando. Pacheco, que colaborou com Bolsonaro até o fim do governo, foi adotado por Lula. É alto e bonito. Será confiável?