A não ser que o inesperado faça uma surpresa, Bolsonaro perde
A História não se escreve à base do se…
atualizado
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Se tivesse liderado a luta contra a pandemia… Se não tivesse afrontado a Justiça toda vez que pôde ou quis… Se tivesse tocado as reformas econômicas conforme prometera… Se não tivesse estancado o combate à corrupção… Se tivesse governado para todos os brasileiros, como disse que faria ao tomar posse…
Bem, se tudo isso e mais aquilo, Jair Messias Bolsonaro não seria o que é e, possivelmente, estaria reeleito. Para o ex-presidente Michel Temer, ninguém ameaçaria a reeleição de Bolsonaro se ele apenas tivesse coordenado as ações contra a Covid-19, ao invés de permitir que o vírus matasse livremente – afinal, não é coveiro.
O destino de Bolsonaro está traçado. Salvo o acaso que escapa a qualquer domínio, ele não será reeleito. Se tudo até lá conspirar a seu favor, disputará o segundo turno com Lula e será derrotado. Então, haverá de decidir se deveria arriscar-se a ser preso ficando no Brasil ou se o melhor não seria o exílio.
Não se espera que o presidente acidental mude de comportamento daqui até o início oficial da campanha. Para não ficar de fora do segundo turno, só lhe resta ser o extremista de direita de sempre para não perder o apoio da manada que o seguirá até à cova. Bolsonaro sente-se naturalmente à vontade nesse papel.
Foi muito além dos seus chinelos. Quem diria que o ex-capitão afastado do Exército por indisciplina, cansado dos quase 30 e inúteis anos que passou na Câmara como deputado federal, acabaria eleito presidente da República e, por tabela, comandante supremo das Forças Armadas? Nem ele diria e jamais disse.
Se Lula não tivesse sido condenado e preso por um juiz considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal… Se, mesmo assim, enquanto a sentença não transitasse em julgado, ele pudesse ter concorrido às eleições de 2018… Se Bolsonaro não tivesse sido esfaqueado em Juiz de Fora… Se… Se… Se…
A História não se escreve no condicional, a não ser por pura diversão. É fato que, de dentro de uma cela em Curitiba, Lula liderou todas as pesquisas de intenção de voto até faltar pouco mais de um mês para o primeiro turno. É fato que o desempenho de Fernando Haddad no segundo turno superou as expectativas.
Se o acaso não aprontar desta vez, e ele costuma aprontar mais do que se imagina, a história que por ora se desenha mostrará que a democracia brasileira revelou-se menos frágil do que parecia. Foi capaz de resistir aos golpes desferidos por uma corja que tentou enfraquecê-la para construir um regime autoritário ao seu gosto.
Não seria pouca coisa, convenhamos.