metropoles.com

A lição que os políticos ignoram: “Palavra é prata, silêncio é ouro”

Memórias da nova velha república

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Ricardo Stuckert/PR
Imagem colorida de Fernando Henrique Cardoso e Lula em aperto de mão - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Fernando Henrique Cardoso e Lula em aperto de mão - Metrópoles - Foto: Ricardo Stuckert/PR

Quem fala pelos cotovelos acaba quase sempre se dando mal. Os políticos bons de gogós, principalmente eles, sabem disso, mas não param de falar. Ou por gostarem de ouvir a própria voz, ou por se sentirem forçados a dizer alguma coisa. Um ditado árabe ensina:

“Palavra é prata, silêncio é ouro”.

Dois faladores eméritos, Lula e Fernando Henrique Cardoso, que compartilham a experiência de ter governado duas vezes o Brasil, reuniram-se ontem em São Paulo – o primeiro, 78 anos de idade, com boa saúde, o segundo, 93 anos, com a memória fraca.

Das besteiras ditas por Lula desde que assumiu a presidência pela terceira vez, o país se recorda por terem sido recentes. No passado, ele também disse besteiras em grande quantidade. Das besteiras ditas por Fernando Henrique, poucos se lembram.

Vivi de perto o episódio em que Fernando Henrique ganhou o apelido de ‘Rei do Tomate”, dado à época pelo então ex-ministro da Justiça do governo José Sarney, o deputado federal Fernando Lyra (MDB-PE). Lira perdia um amigo, mas não uma boa piada.

Por sinal, ele acabara de perder o Ministério da Justiça porque, meses antes, chamou Sarney de “a vanguarda do atraso” na cerimônia em que anunciou o fim da censura no Brasil. Sobre Fernando Henrique, Lyra não resistiu e comentou:

“Eu costumo pisar no tomate, mas desta vez Fernando Henrique pisou no tomateiro”.

Desta vez foi a seguinte: líder do governo Sarney no Congresso, Fernando Henrique (PMDB-SP), senador, disse à repórter Cecília Pires e o Jornal do Brasil publicou com direito a enorme chamada na primeira página em sua edição de 26 de fevereiro de 1986:

“Fernando Henrique prega a volta às ruas”

A entrevista ocupou a página 4 inteira sob o título: “Fernando Henrique: o PMDB deve trocar o governo pela rua”. Entre outras coisas, para assombro do mundo político de então, ele afirmou:

“Não defendo o rompimento, mas acho que ele será irreversível”;

“Se o governo não assumir uma postura condizente com as diretrizes de mudança, a Constituinte vai encurtar o mandato de Sarney”;

“O problema da Nova República é pensar que existe no Brasil. Ela só existe em Brasília”;

“Há nas ruas hoje o começo de um desligamento entre o governo e a sociedade”;

“O presidente Sarney pensa que tem força hoje, e não tem. Ele pensa que é popular, está feliz com os aplausos”;

“A Nova República é a mesma Velha República do passado. A população olha a moldura e diz: ‘É a mesma gente’. Isso é o que está doendo”;

“O PMDB não quer perder a rua, não quer que a rua fique para Brizola ou para o Lula”;

“Quem manda hoje é a ala moderada do Exército […] com a ala liberal do antigo regime, reforçada por um grupo de amigos do presidente”.

Não bastasse, Fernando Henrique recusou-se a acompanhar Sarney no dia seguinte em uma viagem a Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O Brasil vivia uma situação delicada: inflação alta, salários defasados e as contas do governo em mau estado.

No dia 28 de fevereiro, Sarney anunciou o Plano Cruzado que congelou preços e salários e que o tornou da noite para o dia o presidente mais popular da história do país. “Os fiscais de Sarney” fecharam supermercados que remarcaram os preços.

A reboque do Cruzado, em novembro daquele ano, o PMDB elegeu 22 governadores dos 23 possíveis, a maioria dos 49 senadores eleitos, 487 deputados federais e 953 estaduais. Foi a última vez que um partido obteve maioria absoluta no parlamento brasileiro.

Com que cara ficou Fernando Henrique? Talvez com a mesma cara que ficaria Lula quando não acreditou em 1994 que o Plano Real poderia ser um sucesso. Foi tanto que Fernando Henrique se elegeu e se reelegeu presidente derrotando Lula.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?