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À falta de um plano, Lula chama Roberto Campos Neto para a briga

De volta à política como ela sempre foi

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
O economista Roberto de Oliveira Campos Neto, indicado pela presidência da República para o cargo de presidente do Banco Central, durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado
1 de 1 O economista Roberto de Oliveira Campos Neto, indicado pela presidência da República para o cargo de presidente do Banco Central, durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, estava convencido de que Bolsonaro seria reeleito, ou pediu para apanhar de Lula. Se convencido, não foi o único. Bolsonaro também estava, e os generais Braga Neto, seu vice, Augusto Heleno e Paulo Sérgio, ministros do Gabinete de Segurança Institucional e da Defesa.

Mais de uma vez ao longo do governo Bolsonaro, Campos Neto, intramuros, queixou-se dele. Dizia que Bolsonaro calado era um poeta, mas falando um desastre. Dizia que Bolsonaro era especialista em dar tiros no próprio pé. E, no entanto, no dia do primeiro e do segundo turno, o que Campos Neto fez?

Ou quis fazer média com Bolsonaro, que conhecia suas queixas por intermédio de Paulo Guedes, ministro da Economia, que não entregou ao país o que prometeu mais por culpa do seu chefe do que dele mesmo, ou o fator ideológico pesou de fato em Campos Neto para que ele fosse votar fantasiado de bolsonarista.

Usou o uniforme típico – a camiseta amarela da Seleção. Se tivesse vestido a camiseta azul, ainda daria para disfarçar a preferência. Conheci e me dei muito bem com o avô dele, o embaixador Roberto Campos. Conservador, foi uma das maiores inteligências da sua época. O neto não bebeu na mesma fonte.

O mandato de Campos Neto à frente do Banco Central vai até o fim de 2024. A não ser que peça demissão antes, e já disse que não o fará, ele seria obrigado a conviver com o presidente eleito em outubro, fosse qual fosse. Quase foi Bolsonaro, e as relações entre eles poderiam ser recompostas. Mas deu Lula. E aí?

O Banco Central do Brasil é uma autarquia do governo e é a autoridade monetária do país. Sua principal atribuição é manter a estabilidade da moeda nacional e do sistema financeiro. Cabe ao banco, entre outras coisas, estabelecer metas de inflação e a taxa de juros. É aqui que o bicho está pegando.

Lula acha que o Banco Central serve melhor ao mercado financeiro do que ao país:

“Não tem nenhuma justificativa para que nesse momento a taxa de juros esteja em 13,5%. É só ver a ata do Copom para ver que é uma vergonha esse aumento dos juros e a explicação que eles deram para sociedade brasileira.”

Nos governos Lula 1 e Lula 2, foi o vice-presidente, José Alencar, dono da fábrica de tecidos Coteminas, quem reclamava das taxas de juro. Lula ouvia tudo calado. Dilma Rousseff, que sucedeu a Lula, jogou artificialmente os juros para baixo e a inflação subiu. Não foi só por isso que a golpearam, mas foi também.

A herança maldita deixada por Bolsonaro revela-se mais maldita do que Lula imaginava. Ele teme não entregar o crescimento da economia da forma como prometeu durante a campanha. Sabe, em linhas gerais, o que quer fazer, mas por ora não dispõe de um plano bem elaborado. Tateia, testa ideias, avança, recua.

Fernando Henrique Cardoso admitiu que governou o país no seu primeiro mandato à base do gogó. Lula é tão bom de gogó quanto ele. Mas Fernando Henrique tinha um plano, o Real, que o elegeria duas vezes seguidas, além de maioria no Congresso. Por enquanto, Lula não tem nem uma coisa nem outra.

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