A falta de um plano econômico ao Governo Lula (por Ricardo Guedes)
Todo país que se desenvolveu teve um plano macroeconômico que casasse as pontas da demanda e da oferta
atualizado
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Bolsonaro deixou o país com o dólar a R$ 5,32, fechando o dólar em R$ 5,08 em 19 de abril, após a entrega e avaliação do novo arcabouço fiscal. Uma melhoria relativa, ainda muito longe do dólar a R$ 3,87, quando Temer entregou o governo a Bolsonaro. É verdade que Bolsonaro deixou um legado trabalhoso de se consertar. “Minha especialidade é matar, não é curar”, na expressiva frase de Bolsonaro durante a pandemia, conforme noticiado. E é verdade que os juros do BC estão significativamente acima do que deveriam estar. Falta, entretanto, um plano macroeconômico de desenvolvimento para o país.
São duas coisas diferentes. A primeira, o arcabouço fiscal e a reforma tributária, imprescindíveis, em conjunto com políticas setoriais como o Bolsa Família e o PAC, podem ajudar, mas que não são, necessariamente, propulsores do desenvolvimento. Fica ao sabor do mercado a aceitação de cada política setorial. A segunda, é casar macroeconomicamente as pontas da demanda e da oferta em um novo projeto social, com a geração do produto correspondente.
Todo país que se desenvolveu teve um plano macroeconômico que casasse as pontas da demanda e da oferta. Nos Estados Unidos pós 1929, foram implementados investimentos em infraestrutura, intensivos na geração de emprego e renda, com o desenvolvimento do mercado. Na Inglaterra, a negociação contínua no Parlamento na produção e repartição do bem social consolidou-se no século XIX. Na China, a ação racional do Estado na urbanização e industrialização aliada ao mercado privado, com forte investimento em ciência e tecnologia, levaram ao seu desenvolvimento.
No Brasil de Getúlio, foi formado o pacto entre o capital e o trabalho sob a mediação do Estado, com a introdução da CLT e do salário-mínimo. Com Juscelino, o processo de substituição das importações. Com Fernando Henrique, o Plano Real que estabiliza a moeda com efeitos redistributivos. No governo anterior de Lula, o crédito ao setor produtivo então ocioso e implementação de programas sociais, aumentado a demanda e a oferta na geração do desenvolvimento.
A elaboração de plano macroeconômico que case uma nova oferta com uma nova demanda é de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e futuro eleitoral do país.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus