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A condenação de Trump testará a fidelidade dos EUA à democracia

Uma data histórica

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Imagem colorida mostra o ex-presidente dos Estados Unidos DOnald Trump em julgamento - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o ex-presidente dos Estados Unidos DOnald Trump em julgamento - Metrópoles - Foto: Michael M. Santiago/Getty Images

Onde eu estava em 22 de novembro de 1963 quando o mundo soube pelo rádio e a televisão que o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, havia sido baleado em Dallas, a capital do Texas?

Na companhia de Vicente, um amigo nascido na cidade maranhense de Bacabal, meu colega no curso ginasial do Colégio Salesiano do Recife, eu estava a caminho da casa dele no bairro de São José.

Foi uma senhora, de idade avançada, que da janela de sua casa nos contou o que acabara de acontecer. Dali a mais uma hora, a morte do primeiro presidente católico americano foi anunciada.

Data histórica, aquela, que ninguém que a viveu esquece. Três outros presidentes foram assassinados, entre eles Abraham Lincoln. Mas Kennedy era Kennedy, o queridinho do mundo à sua época.

Ontem, depois de voltar a assistir pela terceira ou quarta vez o filme “Amadeus”, do diretor Milos Forman, sobre a vida e a obra de Mozart, ganhador de 8 Oscars, abri o computador e estava lá o aviso.

Dali a instantes, saberíamos se Donald Trump, 77 anos, se tornaria ou não o primeiro ex-presidente americano a ser condenado criminalmente na história dos EUA. Tornou-se, para espanto geral.

Por unanimidade, um júri popular considerou-o culpado em todas as 34 acusações das quais era alvo em um caso sobre falsificação de registros de negócios para encobrir um escândalo sexual de 2016.

Outra data histórica, que poderá tomar de Trump a condição de favorito para se reeleger presidente nas eleições de novembro próximo. O atual presidente Joe Biden deve estar rindo à toa.

Trump estava relativamente calmo quando o veredicto foi lido. A máscara de calma caiu quando ele, ao deixar o tribunal, manifestou-se pela primeira vez:

“O verdadeiro veredicto será dado pelo povo em 5 de novembro. E eles sabem o que aconteceu aqui.”

O juiz Juan M. Merchan pode condenar o ex-presidente a até quatro anos de prisão. Outra opção é a liberdade condicional, que exigiria que Trump se reportasse regularmente a um oficial da justiça.

Qualquer punição poderá ser adiada quando Trump recorrer da condenação, o que ele fará. É improvável que qualquer recurso seja resolvido antes do dia da eleição, e assim ele permanecerá em liberdade até lá.

Neste século, Trump é a maior ameaça à democracia americana. Há quatro anos, ele incentivou seus fanáticos seguidores a invadir o Capitólio para impedir o anúncio oficial da vitória de Biden.

Não reconheceu sua derrota até hoje. E adianta que só reconhecerá os resultados das eleições deste ano caso vença. Eleito, sem sombra de dúvidas tentará implantar no país um regime autoritário.

O Brasil é o país do cambalacho, do acordo, do dá-se um jeito. Nos Estados Unidos, não há acordo quando você lesa o contribuinte. Que o diga o famoso gângster de Chicago Al Capone, e agora Trump.

Que o diga também a construtora Odebrecht, que nos Estados Unidos e na Suíça foi tratada com o rigor da lei, e aqui com a condescendência do Supremo Tribunal Federal, depois do enterro da Lava-Jato.

Uma coisa é certa, como escreve o “The New York Times” em sua edição de hoje: a condenação de Trump testará o povo americano e a fidelidade da nação ao Estado de Direito.

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