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A arapuca em que Bolsonaro caiu: em silêncio, ouviu o que não queria

As cartas em defesa da democracia, que ele chamou de “cartinhas”, deram vez a uma cerimônia que atraiu a nata da República

atualizado

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Reprodução TSE
Bolsonaro no TSE
1 de 1 Bolsonaro no TSE - Foto: Reprodução TSE

Encontrar-se com Lula e Dilma não era coisa que Bolsonaro julgava possível quando o ministro Alexandre Moraes o convidou para sua posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Mas o pior para ele foi ouvir o que ouviu sem ter direito ao uso da palavra, e ver a cerimônia que reuniu a nata da República tornar-se uma extensão dos atos recentes em defesa da democracia.

Foi demais para ele, descontraído a princípio quando trocou confidências com Moraes e até sorriu, carrancudo mais tarde. Não ficou para o coquetel. Saiu do tribunal pelas portas dos fundos.

Os momentos de constrangimento foram muitos. O maior, talvez, aquele em que grande parte da plateia estimada em 2 mil pessoas se pôs de pé e aplaudiu Moraes longamente ao ouvi-lo dizer:

“Somos 156.454.011 eleitores aptos a votar. Somos uma das maiores democracias do mundo em termos de voto popular, estando entre as quatro maiores democracias do mundo. Mas somos a única, a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional.”

Ao retornar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro soube do comentário feito por Lula sobre a fala de Moraes:

“O discurso do Alexandre foi a confirmação da democracia neste país.”

Não só o discurso de Moraes, mas de todos os oradores da cerimônia que atraiu 22 dos 27 governadores, senadores, deputados e ministros e ex-ministros dos tribunais superiores.

Além de Lula e Dilma, outros dois ex-presidentes: Sarney e Temer. Lula trocou de lugar com Sarney para cochichar com Temer. Foi a primeira vez que conversaram desde o impeachment de Dilma.

A bancada governista pareceu atônita em certos momentos. Não sabia se deveria aplaudir os discursos ou cruzar os braços. Paulo Guedes, ministro da Economia, cumprimentou Dilma.

Ao chegar ao prédio do tribunal, Bolsonaro e sua comitiva foram conduzidos a uma sala exclusiva. Moraes foi resgatá-los e os levou para o espaço onde os convidados circulavam livremente.

Enquanto Lula era assediado por dezenas deles, Bolsonaro manteve-se cercado só por sua turma. Ao fim da cerimônia, dois militares da Aeronáutica cumprimentaram Lula efusivamente.

Pergunta que não quer calar: depois de tudo que ouviu de Moraes, Bolsonaro seguirá atacando a Justiça da maneira como o faz e tentando desacreditar a segurança das urnas eletrônicas?

Outra pergunta: em caso de derrota nas eleições, recusará os resultados e desencadeará o golpe cujo ensaio está programado para o próximo 7 de setembro? Façam suas apostas, senhores.

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