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60 anos de 64 – “Esteja preso, general”

Em memória de um militar legalista

atualizado

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Foto da família de Roberto de Almeida Neves
1 de 1 Foto da família de Roberto de Almeida Neves - Foto: Reprodução

Não era qualquer general o que recebeu voz de prisão na manhã da terça-feira 31 de março de 1964. E não foi em um dia qualquer que o general recebeu a ordem de prisão dada por um subordinado seu, de revólver na mão.

O subordinado era o tenente-coronel Roberto de Almeida Neves, nascido em São João Del Rei, Minas Gerais, em 1913, irmão do deputado federal Tancredo Neves, o 7º dos 12 filhos de dona Sinhá. Tancredo foi o 5º.

Alvo da ordem de prisão, o general era o também mineiro Olímpio Mourão Filho, nascido em Diamantina, então comandante da 4ª Região Militar/Divisão de Infantaria, na cidade de Juiz de Fora. O tenente-coronel e o general eram grandes amigos.

Conheceram-se em 1955 – Neves como capitão e Mourão como coronel. Tinham uma paixão em comum: a equitação. Voltaram a se encontrar em Juiz de Fora, em 1963 – Mourão, general de brigada, Neves, tenente-coronel.

Mourão permitiu que Neves passasse a Semana Santa com sua família, em São João Del Rey. Mas no sábado, dia 28, por meio de um telegrama, chamou-o de volta com urgência. Dirigindo seu Fusca, Neves apresentou-se a Mourão.

O clima político no país era o pior possível. Os militares conspiravam há anos para depor o presidente João Goulart, que, como vice, sucedera a Jânio Quadros, que renunciara pensando em voltar ao poder mais forte e com um Congresso mais fraco.

Era praticamente certo que haveria um golpe de Estado, mas a data ainda não fora marcada. Impetuoso e errático como sempre fora, Mourão decidiu pôr suas tropas nas ruas e precipitar o golpe. Cerca de 90% dos oficiais que o cercavam estavam de acordo.

A sós com Mourão no gabinete dele, Neves ouviu que o golpe seria deflagrado dentro de poucas horas. Mourão deu as costas para Neves e, valendo-se de um gigantesco mapa do Brasil, começou a mostrar como se daria a marcha sobre o Rio de Janeiro.

Ao terminar a exposição e virar-se para Neves, o tenente-coronel estava com seu revólver apontado para ele. Então, Neves disse ao general, como mais tarde reproduziria para seus filhos:

“Como oficial do Exército brasileiro, me recuso a desrespeitar a Constituição e a participar de atos antidemocráticos. O regulamento do Exército me autoriza a prendê-lo”.

Oficiais que, do outro lado da porta, ouviram o que Neves acabara de dizer, entraram no gabinete, desarmaram o tenente-coronel e o prenderam. Neves ficou duas semanas preso no quartel, e mais duas no seu apartamento, o de número 101 da rua Sampaio, 412.

Mourão entrou no Rio de Janeiro com a pretensão de ser presidente da República, ou ministro da Guerra, ou comandante do 1º Exército. Seus companheiros de farda ofereceram-lhe a presidência da Petrobras com a missão de varrer dali os comunistas.

Cinco ou seis dias depois, Mourão voltou de mãos abanando a Juiz de Fora, onde foi aclamado. No dia 30 de abril, foi promovido a general de quatro estrelas. Ganhou como prêmio de consolação a presidência do Superior Tribunal Militar.

Por fim, cunhou a frase que o acompanharia pelo resto da vida:

“Sou uma vaca fardada”.

Neves serviu mais um ano em Juiz de Fora. Aposentou-se aos 52 anos de idade como general de brigada. Deixou por escrito com Jair, morador do apartamento acima do seu, o que disse a Mourão para prendê-lo. Morreu com 67 anos, em junho de 1980.

Não viu o fim da ditadura militar de 64 que se recusou a apoiar, nem a eleição, em 1985, do seu irmão Tancredo para presidente da República. Tancredo morreu sem tomar posse, depois de ter sido operado sete vezes.

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