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23 de junho de 2021, o dia que não terminou para Bolsonaro

A fogueira queima em homenagem a São João e pode esturricar o governo que se apresenta como o mais honesto da história do país

atualizado

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Presidente Jair Bolsonaro , durante apresentação das ações para desburocratização e atração de investimentos para setor de turismo 3
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro , durante apresentação das ações para desburocratização e atração de investimentos para setor de turismo 3 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Como os séculos, os governos nem sempre começam ou terminam nas datas previstas no calendário gregoriano.

O século passado começou quando explodiu a primeira guerra mundial em julho de 1914, e terminou em 26 de dezembro de 1991 com a dissolução da União Soviética.

Este século começou com o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 que derrubou as torres gêmeas de Nova Iorque.

Não havia governo Bolsonaro antes da pandemia, só um projeto de destruir o “sistema” para, mais tarde, construir outro. Não há governo depois de mais de 500 mil mortos pelo vírus.

De certo o que há é um desgoverno que tinha data marcada para chegar ao fim (31/12/2022), e que agora nem isso tem mais.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid-19, comentou com amigos que o governo está desmoronando. A conclusão parece precipitada.

Seria mais razoável dizer que o dia de ontem para o presidente acidental não terminou, e tudo indica que não terminará tão cedo.

O dia começou com Bolsonaro chamando de “pobres coitados” os que foram às ruas pedir o seu impeachment. Anoiteceu com Bolsonaro atingido por grave denúncia de corrupção.

O que se esperava de um presidente que diz comandar o governo mais honesto da história do Brasil?

Que agisse de pronto e com rigor para apurar uma tentativa de desvio de recursos públicos, tanto mais quando, além dos mortos, há quase 15 milhões de desempregados e a miséria aumenta.

E o que fez Bolsonaro? Primeiro, ignorou a denúncia. Uma vez que ela se tornou pública, mandou investigar os denunciantes.

Tinha razões de sobra para levá-los a sério. Os irmãos Miranda são bolsonaristas de quatro costados – um, deputado federal do DEM que apoia o governo, e o outro servidor do Ministério da Saúde.

Os dois contaram-lhe em primeira mão o que acontecia com a compra superfaturada da vacina indiana.

Por que Bolsonaro não acionou a Polícia Federal para que descobrisse a verdade? Por que nunca mais quis conversar com os irmãos Miranda? Medo do quê? Raiva por que?

Miranda, o servidor, foi demitido e depois readmitido só para calar a boca do seu irmão deputado.

À época, o general Eduardo Pazuello era o ministro da Saúde, e disse a Miranda, o deputado, que não poderia fazer mais nada. Estava de saída do ministério.

De fato, saiu do governo por uma porta e entrou por outra. Pazuello e a trinca de coronéis que o auxiliavam sabiam e sabem demais para que Bolsonaro os deixe ao desalento.

O dia que não terminou promete novas revelações com o depoimento, hoje, à CPI, do ex-governador do Rio Wilson Witzel.

E com os depoimentos, amanhã, dos irmãos Miranda. O Centrão saliva com tudo isso e com o mais que vier. Bolsonaro dependia dele para manter-se onde está.

Deixou de depender, virou refém.

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