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1968, o ano que não acabou, dá sinais de que pode voltar nos EUA

A mão que alimenta palestinos famintos é a mesma que os mata

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
manifestação a favor do povo palestino em frente ao museu da república no DF
1 de 1 manifestação a favor do povo palestino em frente ao museu da república no DF - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

O que é liberdade de expressão? É uma multidão, reunida por um candidato derrotado, juntar-se em local público com bandeiras e cartazes a aclamar seu guia e a gritar que o presidente eleito é ladrão, que um ministro da mais alta Corte de Justiça do país é ditador, sem que a polícia intervenha e a disperse?

Ou liberdade de expressão é chamar a polícia e ela prender mais de 140 estudantes dentro de universidades só porque protestavam contra o apoio do governo do seu país a uma guerra em região distante onde já morreram mais de 35 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, fora as enterradas em valas comuns?

Se liberdade de expressão é o que neste texto está em primeiro lugar, há, sim, liberdade de expressão no Brasil, e ela não está ameaçada como seus falsos defensores dizem que está. Eles mentem e há muitos que, por suposta ignorância, acreditam no que dizem; outros fingem acreditar só para favorecê-los e se favorecer.

Se liberdade de expressão passa pela prisão de estudantes que protestam contra uma guerra distante, são proibidos de assistir a aulas e até expulsos, então não existe liberdade de expressão, ou ela é precária, justamente no país, os Estados Unidos, que se oferece ao mundo como exemplo da democracia.

1968, conhecido como o ano que não acabou, parece querer repetir-se nos Estados Unidos. Há 56 anos, os estudantes americanos incendiaram com discursos e passeatas as universidades para pedir o fim da guerra do Vietnã e a volta em vida dos soldados que só retornavam mortos. A guerra só acabou quatro anos mais tarde.

Agora, é pela Palestina praticamente destruída por armas fornecidas a Israel pelos Estados Unidos que os estudantes protestam. Os governos dos dois países respondem: são manifestações antissemitas e, portanto, devem ser reprimidas e não se discute mais isso. É como Israel responde aos palestinos: vocês são terroristas, e tome bala.

Acusar alguém de antissemitismo é a melhor maneira de recusar-se a debater e calar seu oponente. Acusar alguém ou a um grupo de terrorismo é justificar o emprego de violência excessiva contra os incapazes de se defender. Haverá guerra mais assimétrica do que essa – Israel, uma potência militar x palestinos desarmados?

Cerca de 40 pessoas, e não somente estudantes, foram presas durante uma manifestação pró-Palestina na Universidade de Yale, nesta segunda-feira (22). O incidente aconteceu horas depois de a Universidade Columbia ter chamado a polícia outra vez. Já havia chamado na semana passada, e com o mesmo resultado.

Os manifestantes bloquearam o tráfego ao redor do campus de Yale, exigindo que a universidade se desfaça de fabricantes de armas militares. Mais de 100 manifestantes foram presos na Universidade de Columbia, alguns dos quais montaram dezenas de barracas para ali permanecerem sem serem expulsos – mas foram.

Acampamentos pró-Palestina também foram montados no Emerson College, em Boston, e no Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge. No domingo (21), o presidente Joe Biden declarou que sua administração pôs toda a força do governo federal para proteger a comunidade judaica:

“Mesmo nos últimos dias, temos visto assédio e pedidos de violência contra judeus. Esse antisemitismo flagrante é repreensível e perigoso”.

Elie Buechler, rabino ortodoxo da Universidade de Columbia e de sua afiliada Barnard College, disse aos estudantes que a polícia do campus e da cidade não pode garantir a segurança dos estudantes judeus:

“É com grande pesar que recomendo enfaticamente que voltem para casa o mais rápido possível e que permaneçam ali até que a realidade dentro e ao redor do campus tenha melhorado”.

Os estudantes que organizaram o acampamento da Universidade de Columbia disseram que estavam sendo identificados erroneamente com antissemitas e que alguns “indivíduos inflamados” não representavam seu movimento. Eles exigem que a universidade se desfaça de empresas que lucram com as açõe de Israel em Gaza.

Está para nascer um líder político americano capaz de tratar Israel apenas como um aliado entre tantos. Os países têm o direito de privilegiar aliados. Mas o caso dos Estados Unidos é diferente: sua política externa, desde meados do século passado, é inteiramente dependente de Israel, e não o contrário.

É por fraqueza? Não é. É por escolha e submissão. Quando era senador, Biden saudou Israel como “o maior porta-aviões” dos Estados Unidos no Oriente Médio. É seu braço armado. Mas não é só por isso. É por ideologia, negócios bilionários, desprezo pelos árabes palestinos e ambição por petróleo e outras riquezas.

Os mesmos motivos ditam as relações dos demais grandes países da Europa com Israel. A que ponto chegou o mundo ocidental que se diz o mais civilizado: alimenta parte dos palestinos famintos jogando-lhes comida do céu, e vende armas a Israel para que os mate sem dar satisfações nem ser retaliado.

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