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Os desastres de Belo Monte, Jirau e Santo Antonio

Violência, fome, desmatamento, colapso da agricultura e da pesca e energia elétrica mais cara em Rondônia e no Pará

atualizado

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Divulgação Norte Energia
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1 de 1 hidreletrica-belo-monte - Foto: Divulgação Norte Energia

Uma promessa de desenvolvimento que terminou em um desastre socioambiental. Essa é a conclusão de um estudo sobre o impacto das construções das hidrelétricas de Belo Monte, no Pará, e Jirau e Santo Antonio, em Rondônia.  Ao invés de saneamento, saúde e educação, houve uma explosão de violência, desmatamento, colapso da agricultura e da pesca e, por incrível que possa parecer, uma energia elétrica mais cara.

Os mesmos trezentos reais que uma família paga mensalmente em São Paulo no consumo de luz, transformam-se em R$ 1.500 em Altamira, cidade próxima a usina de Belo Monte. O que ficou dos investimentos que as obras trouxeram para a região? Nada. Entre outros motivos, porque o governo não cobrou da construtora Andrade Gutierrez, responsável pelo projeto, o cumprimento das condicionantes estabelecidas no contrato. A empresa afirma que investiu R$ 6,5 bilhões em ações socioambientais. Ninguém sabe para onde foi esse dinheiro.

O estudo “Depois das Hidrelétricas: Processos sociais e ambientais que ocorrem depois da construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira”, apresenta resultados das pesquisas iniciadas em 2013 –  a primeira fase na hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu, inaugurada em 2016, e a segunda fase, iniciada em 2020, incluiu estudos as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira.

Emilio Moran, coordenador do projeto e professor da Universidade Estadual de Michigan (Estados Unidos) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) afirmou à Revista Fapesp que houve mudança no uso do solo nas bacias dos rios Madeira e Xingu e a área florestal foi reduzida com o avanço dos pastos. A produção pesqueira despencou, 30% das espécies desapareceram – nunca mais se viram os bagres de 100 quilos. A produção agrícola caiu ao deixar as várzeas. Foi a transformação forçada de uma cultura e uma economia. Para muito pior

Em Altamira, os Reassentamentos Urbanos Coletivos [RUCs] têm abastecimento de água irregular, obrigando o uso de caminhões-pipa. “Dá para imaginar uma população que tinha uma relação próxima com o rio, numa espécie de mundo aquático, depender de caminhão-pipa?” questiona Moran. Mais: 69% dos responsáveis por domicílios na cidade disseram que sofrem de insegurança alimentar.

É a segunda vez que a cidade, no sudoeste do Pará, é atingida por grandes projetos de infraestrutura. Primeiro foi a construção da rodovia Transamazônica, entre 1971 e 1973. Depois, Belo Monte. O pesquisador visitou a região na década de 1970, quando a população passou de mil para 10 mil habitantes em menos de um ano. Com a hidrelétrica, no início dos anos 2010, o boom populacional foi de 75 mil para 150 mil habitantes em dois anos, causando todos os problemas comuns a esse tipo de fenômeno.

“Queríamos investigar se os mesmos problemas de Belo Monte também ocorreram em Jirau e Santo Antônio, e a resposta é sim. Jirau e Santo Antônio, construídas muito próximas da capital Porto Velho, foram esquecidas pela mídia brasileira. Não houve preparação nem planejamento e a área inundada foi o dobro do previsto”, aponta Moran. Em Porto Velho, os bairros criados para populações reassentadas apresentaram problemas estruturais. A promessa de estabelecer cooperativas de fomento para populações ribeirinhas, não foi cumprida; O preço da energia elétrica também aumentou, com redução do acesso à energia, água e terra

Mas ao menos a oferta de energia elétrica para o país aumentou, certo? Mais um grande fracasso. Embora a capacidade instalada em Belo Monte seja de 11 GW, a energia comercializada é de apenas 4 GW. E com a seca na Amazônia, a hidrelétrica nada produz.

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