O que o futuro reserva a Arthur Lira
Se Lira pesquisar alguns de seus antecessores, terá bons motivos para se preocupar
atualizado
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A eleição para a Presidência da Câmara será no início de 2025 e Arthur Lira lutará para fazer seu sucessor e manter sua influência. Sutilmente, a cada dia que passa ele sente o poder esvaindo-se de suas mãos. De um lado o governo age para enfraquecê-lo. Do outro, deputados se reorganizam frente às novas lideranças. O presente anda pertence a Lira, porém, normalmente, o futuro não é muito generoso com ex-presidentes da Câmara.
O enfraquecimento de Lira é um projeto múltiplo. Ele abarca conflitos permanentes com o presidente da Câmara, como nos vetos de Lula às emendas de comissão ou o fim do Perse. O governo é alvo de críticas dos parlamentares, mas a insatisfação também chega a Lira, fiador dos acordos.
Enquanto se aproxima de Rodrigo Pacheco e fortalece sua relação com o Senado, o governo afaga os possíveis candidatos à Câmara. Manterá todos em sua órbita e os distanciará de Lira. O mesmo vale para aliados do atual líder do Centrão. O governo quer aumentar o seu poder de barganha. As pressões da PF e vazamentos de investigações pela imprensa são outro ingrediente eficiente. Basta lembrar o escândalo do kit de robótica em Alagoas. Tudo ficou em pizza, mas Lira pode ser incomodado com outras denúncias.
Como é a vida após a presidência da Câmara? Se Lira pesquisar alguns antecessores, terá bons motivos para se preocupar. Seu professor Eduardo Cunha teve o Congresso a seus pés. Provocou o impeachment de Dilma, aprovou as emendas impositivas. Poucos chefes do Parlamento tiveram tanto poder. Renunciou ao cargo em setembro de 2016, após ser afastado pelo STF em maio do mesmo ano, dentro da operação Lava Jato. Foi preso, passou para prisão domiciliar e teve sua sentença anulada pelo Supremo.
Rodrigo Maia assumiu a Câmara em 2016, após a renúncia de Eduardo Cunha e ganhou duas eleições, despedindo-se do posto em 2021. Foi pressionado a colocar os inúmeros pedidos de impeachment contra Bolsonaro, mas jamais o fez. Justificou que não havia ambiente político. Em agosto de 2019, relatório da PF o acusou de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em 2021, foi secretário de Ações Estratégicas de João Dória. Despediu-se da Câmara no ano passado ao decidir não disputar um novo mandato. Hoje é presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras.
Aldo Rebelo comandou a Câmara entre 2005 e 2007. Havia sido secretário de Relações Institucionais do governo Lula. Abandonou o Legislativo e foi ministro dos Esportes, Ciência e Tecnologia, e Defesa. Deixou o PCdoB, tentou o Senado e se afastou da esquerda. Hoje anda de mãos dadas com o agro e transita próximo ao bolsonarismo. Ocupa a Secretaria de Relações Internacionais da prefeitura de SP, substituindo Marta Suplicy.
A não ser Cunha, nenhum deles se deu mal. Longe disso. Mas parece que a Presidência da Câmara é o topo de muitas carreiras políticas. Depois dela, para muitos restou navegar pelos bastidores ou abraçar certa irrelevância nacional. Acontecerá com Lira? Veremos.
Seus planos são disputar uma vaga no Senado contra Renan Calheiros. Dentro de seu estado, ainda não foi páreo para seu principal adversário. Então, ser governador é um sonho distante. De qualquer maneira, pode cuidar de suas fazendas e suas vaquejadas. E sempre haverá Barra de São Miguel.