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O gabinete do ódio de Javier Milei

Milícias digitais repetem a estratégia de ameaças e perseguição da ultradireita

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Imagem colorida mostra o presidente da Argentina, Javier Milei, durante discurso - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o presidente da Argentina, Javier Milei, durante discurso - Metrópoles - Foto: Marcelo Endelli/Getty Images

As redes sociais são o campo de batalha da direita no mundo e não seria diferente na Argentina de Milei. Repete-se a estratégia das fake news, robôs, ações coordenadas, perseguições e ameaças de morte contra opositores. E como aconteceu aqui, com o Gabinete do Ódio, o governo nega qualquer envolvimento com a atividade.

A Revista Crisis fez uma ampla reportagem denunciando os métodos da ultradireita mileinista. Dois perfis do twitter de oposição revelaram, através da Lei de Acesso à Informação, as visitas constantes de integrantes de uma milícia digital à Casa Rosada e sua relação com Santiago Caputo, assessor presidencial.

Todos os nomes são de influenciadores que apoiam Milei nas redes sociais muito antes da presidência ser uma possibilidade, mas que não integravam o corpo estatal. Juan Pablo Carreira, por exemplo, foi oficializado como diretor de Comunicação Digital somente após as denúncias. Outro personagem exposto é o médico Daniel Parisini, conhecido como “Gordo Dan”, visto como mais influente do grupo e que chega a autorizar a entrada de outras pessoas no edifício.

Os dois tuiteiros de oposição continuaram revelando os integrantes da milícia digital e seu modus operandi. Um mês depois, “Gordo Dan” expôs seus nomes e rostos para toda a comunidade.

Após esse episódio, um dos críticos da milícia recebeu uma embalagem. Dentro, um pote de plástico com terra e vermes. Em algumas horas, visualizou em seu celular uma mensagem avisando que ele também acabaria como a terra, caso seguisse com as denúncias. Avistou um homem fotografando sua casa. Foram publicadas imagens, nomes, endereços, placas de carro e dívidas bancárias de toda a sua família, que foi ameaçada. O oposicionista percebeu que teria que render-se.

Outro caso foi o da astróloga e escritora Ayvelén Romano, com 140 mil seguidores no X, que organizava chats de discussão política, em que participavam feministas peronistas. Integrantes da milícia entraram e trollaram o grupo. Foram bloqueados. Foi o início da retaliação.

Divulgaram seu número de telefone, uma foto da porta de sua casa e detalhes de sua conta bancária. No início de abril, um homem ameaçou sua mãe e disse-lhe que se “sua filha vagabunda” não calasse a boca, ele iria “matar a todos”, citando o nome de outros familiares. Em 8 de abril, enviaram um vídeo de um homem se masturbando enquanto a voz dela era reproduzida.

A deputada da província de Buenos Aires Constanza Moragues abriu uma dissidência do Liberdade Avança na Assembleia no ano passado. Após algumas votações neste ano, foi tachada de traidora. Seu celular começou a receber mensagens com vídeos de tortura e ameaças de morte. Depois, entraram em sua casa e a vandalizaram. Hoje, Moragues e sua mãe estão sob a custódia do Ministério Público. Em uma entrevista, questionou a participação do presidente: “Não sei se Milei aprova isso, mas também não sei se ele está pedindo que eles parem”.

Não pediu e, pelo contrário, aprova. Segundo o site Perfil, o medo domina o Liberdade Avança após os ataques e a demissão de Julio Garro, subsecretário de Esportes, que cobrou desculpas de Messi pelos cânticos racistas no ônibus da seleção após a conquista da Copa América. Desde então, existe o temor de que uma declaração infeliz possa desencadear a fúria da milícia. Segundo fontes do site, o próprio Milei mandou dizer, através de Santiago Caputo, que o grupo o “defende 90% melhor do que os funcionários do governo”.

Apesar das denúncias, o grupo digital de extrema-direita continua atuando livremente. Mas só a milícia não basta para os libertários. Na última segunda-feira, a ministra de Segurança Patricia Bullrich anunciou a criação da Unidade de Inteligência Artificial Aplicada à Segurança. O órgão terá o poder vigiar as redes sociais e a dark web para investigar e antecipar possíveis crimes com o uso da IA. Especialistas preveem que será uma caça a opositores e um atentado ao estado de direito e à Constituição Nacional, já que para qualquer busca dessa natureza, é preciso uma ordem judicial.

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