Movimento negro que apoiou Lula critica indicações: “desilusão”
Lideranças afirmam que faltam especialistas negros na transição e criticam criação do Ministério da Igualdade Racial: “enfraquece a luta”
atualizado
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Lideranças de movimento negro que apoiaram a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva criticam as indicações para o Grupo de Transição e até mesmo a criação do Ministério da Igualdade Racial.
Num texto, o franciscano Frei David Santos, da Educafro, e o sociólogo Ivair Augusto dos Santos, afirmaram que “olhando para a equipe de transição do governo Lula, bate uma tristeza e um sentimento de desilusão, ingratidão e perpetuação do colonialismo”.
Durante a campanha do segundo turno, Frei David levou um grupo de freis franciscanos para um encontro Lula. Para os autores, o governo eleito desconsiderou uma relação de nomes de profissionais negros de áreas diversas, com mestrado e doutorado, aptos a colaborar.
“Lula precisa reverter esse quadro. Nossa comunidade tem centenas de afro-brasileiros e brasileiras com mestrado, doutorado e pós-doutorado, prontos para colaborar. Alguns com perfil para o STF. Quase todos, frutos de algumas das ações afirmativas do próprio governo Lula” – afirmaram Ivair e David, que lembraram que completa 21 anos a conquista da primeira universidade brasileira que adotou as ações afirmativas, a Uerj.
“Por que o governo e os partidos cobram das empresas particulares e não dão o exemplo, na composição do governo federal? Até agora os indicados para a equipe de transição são, em sua maioria, pessoas brancas, ricas, velhas. O racismo estrutural está dominando a equipe que comanda a frente democrática?” – escreveram os signatários.
Eles afirmam também que há uma concentração de negros e negras no grupo da temática racial, mas não há em outras áreas do governo.
Para eles, a criação do ministério não resolve.
“A boa intenção em criar um Ministério de Igualdade Racial enfraquece a luta e restringe nossas perspectivas de atuação nas políticas públicas. A experiência da existência da Seppir (Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial) foi muito difícil, pois sua atuação nos ministérios dependia da boa vontade ou da sensibilidade dos ocupantes dos outros ministérios, comprometendo a eficiência da pasta. Sem recursos e sem poder de agir, atuava no simbólico. A experiência corre o perigo de se repetir”.
No texto, as lideranças citam o exemplo de Joe Biden quando eleito presidente dos Estados Unidos e que, na transição, “focou na diversidade”. O que não ocorre agora nos grupos que atuam no CCBB.
‘Ainda precisamos ministrar letramento racial à esquerda? Estamos prontos. Não aceitamos sermos colocados num “cercadinho” – Seppir. Queremos estar contribuindo em todos os ministérios. É hora de a frente democrática dar sinais mais eficientes e acabar com esses 522 anos de exclusão e silenciamento. Estão prontos? Todos precisamos contribuir para acabar com o racismo estrutural no espaço público”.