Ministério da Educação, um orgulho bolsonarista
Pastores lobistas e falta de investimentos são projeto de governo
atualizado
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Se Bolsonaro deixar o governo ao fim de 2022 poderá gabar-se de alguns feitos.. Foi o presidente do garimpo e do desmatamento na Amazônia, do vírus e da morte na pandemia, das fakes news e das ameaças à democracia, entre tantos crimes. Por fim, já sem fôlego, vai afirmar que desmontou a educação no país, e ainda permitiu que pastores, sem cargo no governo, agissem como lobistas no MEC, como mostraram reportagens do Estadão.
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, 62 anos, teólogo e advogado, com doutorado em Educação e pastor da Igreja Presbiteriana, é o protagonista. Os pastores Gilmar Silva dos Santos, líder do Ministério Cristo para Todos, um ramo da Assembleia de Deus, com sede em Goiânia e presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da mesma entidade, os coadjuvantes.
Segundo a reportagem, os pastores andam livremente pelos corredores do ministério, utilizam voos da FAB e atuam como lobistas, intermediando verbas entre prefeitos, empresários e a pasta. Guardadas algumas diferenças, o esquema lembra o empresário Airton Cascavel, conhecido como número 2 informal da Saúde, nos mortíferos tempos do general Pazuello no Ministério. Mesmo sem vínculo legal, se encontrava com autoridades e falava por Pazuello. Parece mais uma prática comum no governo Bolsonaro.
Os pastores atuam com prefeitos do Progressistas, do PL e do Republicanos, para acessar os R$ 945 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), presidido por Marcelo Ponte, ex-assessor do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas).
Reforma de escolas, compra de ônibus? Só falar com os pastores para liberar a verba. Como disse Doutor Sato (PSDB), prefeito de Jandira (SP), que frequentava a igreja dos pastores e conseguiu uma audiência com o ministro. “Nossa, foi fantástico, foi uma coisa divina.”
A prática é defendida pelo ministro Ribeiro, que deseja ver deputados e senadores longe de seu gabinete. Sem política, sem discurso de parlamentar nenhum. Respeito os parlamentares, mas é técnica”, disse. Procurados pelo Estadão, os pastores admitiram o lobby, mas afirmaram que não receberam nada por isso. Patriotas, certamente.
Verbas do Ministério sem a participação de parlamentares? Isso é ofensa no Congresso. Ainda mais em ano de eleição. Para que então o orçamento secreto, a compra de apoio de congressistas desenvolvida pelo governo Bolsonaro? O deputado federal Sóstenes Cavalcante, líder da bancada evangélica, prometeu conversar com Bolsonaro sobre o tema. O presidente já recebeu os pastores duas vezes no Palácio do Planalto.
Mas esse é só mais um capítulo da gestão Bolsonaro, que já teve os olavistas Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub no comando da pasta. O orçamento do MEC para investimentos em 2022 é de R$ 3,45 bilhões, muito abaixo dos R$ 10 bilhões em 2009 (corrigido pela inflação). O maior valor proposto por esse governo foi de R$ 4,63 bilhões, em 2020 – 5,2% dos gastos do governo. Era de 6% em 2018.
O governo ainda vetou projeto aprovado no Congresso que daria internet a alunos pobres. Em janeiro cortou R$ 800 milhões da Educação, ao sancionar a lei orçamentária. O país perdeu mais de 2,5 mil creches particulares na pandemia. Matrículas na educação infantil caíram 7,3% nos últimos três anos. O último Censo Escolar apontou que mais de 650 mil crianças saíram da escola desde que Bolsonaro vestiu a faixa. O Enem teve o menor número de inscritos desde 2005. A crise e o desmonte do Inep quase inviabilizou a prova. A PGR denunciou o ministro Milton Ribeiro ao STF por crime de homofobia.
A lista é longa. Tudo dentro do projeto de um presidente que se orgulha de não ler livros e ofende Paulo Freire. Bolsonaro quer uma educação que seja seu espelho.