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Marqueteiro se apresenta como enviado de Bolsonaro ao QG; Planalto silencia

Vídeo: Michel Winter, que teria trabalhado na campanha de 2018, discursou que o recado de Bolsonaro era para não deixarem os quartéis

atualizado

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Evandro Éboli – Metrópoles
Michel Winter no acampamento do QG
1 de 1 Michel Winter no acampamento do QG - Foto: Evandro Éboli – Metrópoles

Com uma calça jeans e vestindo uma camisa social branca, com punhos e colete na cor verde com o brasão da República e as iniciais de seu nome M.N.W. bordadas logo abaixo. Assim, o cientista político e marqueteiro Michel Neves Winter, de 51 anos, circulava e discursava, anteontem, nas barracas dos manifestantes pró-golpe acampados em frente do Quartel General do Exército, em Brasília.

Na foto acima, Winter posa com bolsonaristas que defendem intervenção das Forças Armadas.

Winter se anunciava como um emissário e representante de Jair Bolsonaro e em nome do presidente mandava recados aos seus apoiadores. A mensagem do presidente, segundo o seu suposto enviado, era para a turma não se desmobilizar, que, com a “caneta BIC na mão” Bolsonaro não irá “entregar o país na mão deles” e que não irá permitir a implantação do “comunismo” no Brasil.

O Blog do Noblat acompanhou o périplo de Winter, que estava sempre acompanhado de quatro companheiros, que  abriam o caminho, o apresentava como “assessor de Bolsonaro” e sabiam a hora de encerrar o discurso, sempre após sessão de fotos com grupos de bolsonaristas, que aplaudiam e davam crédito às suas palavras.

Num momento no qual pediu para ninguém filmá-lo ou gravá-lo, Winter afirmou ser “uma das pedras principais que elegeram Bolsonaro” em 2018. Contou que apenas ele e mais quatro – citou Gustavo Bebianno (ex-ministro e que morreu em março de 2020) – acreditaram. Teria trabalhado na sua campanha, naquele ano.

Em cada parada, Winter, sempre em nome de Bolsonaro, dizia que o presidente não podia estar ali, não podia falar, mas que “mandou um forte abraço para todos”.

“O presidente me autorizou a vir aqui e mandou dizer que ele está trabalhando por nós e nossos familiares. Que, dentro das quatro linhas, juridicamente e cirurgicamente, ele está trabalhando e fazendo um ótimo trabalho a nível internacional para que nosso país não seja golpeado. A cada brasileiro aqui o presidente manda um forte abraço e manda dizer que não vai entregar nosso país a eles” – disse.

Num desses momentos que solicitou que ninguém gravasse, Winter deixou claro que há um golpe em curso e chegou a dizer que Exército e Marinha “estão inteiros”, mas “o único problema é com a Aeronáutica”.

O marqueteiro afirmou que se o que estava falando ali fosse gravado, ele poderia ser preso.

“Aí ninguém mais vai trazer notícia do presidente” – contou.

Numa das barracas, com um pessoal do Mato Grosso, Winter foi abordado por um indígena, da etnia parecis – conhecidos por plantarem soja naquele estado. O “emissário” de Bolsonaro gravou uma mensagem com o índio, como se tivesse falando para o presidente.

“Me emociona, presidente. Venho te representar aqui, junto ao povo. Independentemente de raça, credo, o povo brasileiro clama. Eles estão aqui, pedindo para o senhor usar a caneta e dar uma mudança para o Brasil”.

Veja o vídeo dos discursos de Winter a bolsonaristas.

 

A reação dos bolsonaristas era de credulidade nas palavras de Winter. Mesmo sem ter ideia de quem se tratava, até ele seus “assessores” o apresentarem. Tiravam fotos, faziam vídeos, pediam orientações a ele. Não o questionavam.

Uma manifestante de Sapezal (MT) perguntou a ele se era para irem embora ou permanecerem no acampamento.

“O presidente pede que fiquem. Falta pouco” – afirmou.

“E mandou o recado: vocês não vão votar para casa com a derrota. Tenham a certeza absoluta. Para isso, não abandonem os quartéis agora” – disse também.

Por todo o acampamento, um aliado de Winter, com um megafone nas mãos, passava anunciando o recado do “assessor de Bolsonaro”.

“Michel Winter, o assessor do presidente Bolsonaro, está aqui. Ele passou e está falando que o presidente não irá entregar o governo. Que temos que aguardar” – gritava o locutor.

E era aplaudido.

O “assessor” do presidente foi candidato a deputado federal em Minas Gerais este ano, pelo PMB (Partido da Mulher Brasileira). Teve pouco mais de 400 votos, muito longe de se eleger. No seu material de campanha, ele se apresentou como “marketeiro” de Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em setembro, ele afirmou que o presidente o estimulou a ser candidato em Minas “para puxar voto”.

Em 2020, Winter contraiu a Covid-19 e diz que se curou com a cloroquina. Chegou a ficar internado, em estado delicado. Bolsonaro gravou um vídeo para ele, o tratando por “senhor Michel”, saudando sua cura.

Palácio do Planalto não se manifesta

O blog encaminhou na manhã de ontem um pedido de manifestação de Jair Bolsonaro. Perguntou, em mensagem, se procede a informação de que Winter representa o presidente no acampamento em frente ao QG do Exército; se é verdade que o marqueteiro atuou na campanha de Bolsonaro em 2018; e se o presidente o conhece.

Mas não houve resposta do Planalto.

O blog tentou também falar com Michel Winter.  Deixou um recado, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

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