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Flow foi quem melhor lidou com Marçal

Na batalha por cortes, Igor 3k venceu o candidato do PRTB

atualizado

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Pablo Marçal
1 de 1 Pablo Marçal - Foto: Reprodução

É fato: jornalistas não sabemos lidar com Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo. Na CNN, G1, Uol, o coach atacou, mentiu, respondeu o que quis e conseguiu seus valiosos cortes perante profissionais atônitos. No Roda Viva, foi constrangedor ver ele jantar os entrevistadores. Já no Flow Podcast, manteve a pose, mas ficou desconfortável com a sinceridade de Igor 3k.

“Como tem otário no mundo” disparou Igor após Marçal se vangloriar dos milhões arrecadados em suas lives. Chamou-o de egocêntrico, disse que se acha Jesus e que “sabia que ela não iria levantar”, sobre Marçal tentar fazer um milagre. “Eu acho você desonesto”, lançou. Qualquer entrevistado levantaria aos berros e deixaria o programa, mas a sobriedade, o sarcasmo e a cumplicidade de Igor não desestabilizaram Marçal, que esqueceu sua agressividade em casa.

O formato do podcast é melhor do que a bancada do Roda Viva, e o posicionamento político de direita de Igor – ninguém é sócio de Monark impunemente -, mostraram um Marçal à vontade, e por isso, se enrolando em suas próprias histórias. Ele tem excelente oratória, mas ao mentiroso, deixe-o com palavras: a linguagem é traiçoeira.

A necessidade do jornalismo espremer os candidatos, ainda mais um estelionatário, unida à arrogância de quem vive em uma bolha branca classe média alta foi temperada pela falta de preparo, em alguns casos. Pronto, cria-se a atmosfera ideal para o coach desfilar seu mau-caratismo.

Afinal, por que chamar alguém para uma entrevista senão para ouvi-lo? Ao invés de atacar, contra-atacar. Marçal tem um padrão em todas as suas entrevistas. Ao invés de responder a pergunta, ele procura um fio para desviar o assunto. Um exemplo foi na entrevista da CNN, em que o jornalista Pedro Venceslau, ao perguntar sobre o teleférico, afirmou que especialistas não consideravam “exequível” a proposta do coach, que partiu pra cima: me fala o nome dos especialistas, me fala um nome. O jornalista não soube dizer. Mais um corte para as redes do Marçal

É preciso um fact checking rápido todas as vezes que o candidato do PRTB  abrir a boca. O Aos Fatos levantou algumas falsidades do coach no Flow. Mentiu ao dizer que nunca remunerou seguidores nem fez campeonatos de cortes em suas redes. Sobre o processo criminal em que foi condenado por furto qualificado, como integrante de uma quadrilha de fraudes bancárias, voltou a dizer que apenas consertava os computadores do grupo, apesar da sentença apresentar provas de que ele tinha ciência do esquema.

Como aponta a maioria das análises, Marçal só se interessa por sua própria imagem e investe nos ressentimentos de parte da população contra a intelectualidade da esquerda, a classe artística, o preconceito contra evangélicos. Ao mesmo tempo, prega esse empreendedorismo irreal, uma enfermidade a atacar as esperanças, a saúde mental e o bolso de quem compra a fórmula da riqueza em um dos países com maior concentração de renda do mundo.

Além de milionário, Marçal já tinha uma base forte. Com a eleição, furou sua bolha e ficou ainda mais conhecido e certamente mais rico. Se antes os partidos apostavam em celebridades para puxar votos no Legislativo, agora serão os números de seguidores que definirão as escolhas dos candidatos. Sou a favor de juízes eleitos pelo voto, mas nessa lógica, Deolane Bezerra teria uma cadeira assegurada em um Tribunal de Justiça.

Enquanto a esquerda segue adorando suas estátuas empoeiradas, sem novas lideranças e interpretações para a realidade, a extrema-direita inventa novos personagens e métodos – o que é obviamente perigoso. Nós jornalistas, parecemos emparedados desde a ascensão do bolsonarismo. Tanto em 2018 quanto agora, a tentativa de desconstruir o fascismo com milhares de matérias e colunas parece ter efeito oposto. E há uma contradição óbvia em nossa grande imprensa. A extrema-direita é atacada por questões morais, estéticas e democráticas, entretanto, está entrelaçada com os ideias neoliberais defendidos pela Faria Lima e pela maior parte do jornalismo econômico.

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