Familiares de mortos e desaparecidos na ditadura cobram de Lula volta de comissão
Governo prometeu mas ainda não recriou colegiado que foi extinto como um dos últimos atos de Jair Bolsonaro
atualizado
Compartilhar notícia
Familiares de mortos e desaparecidos políticos na ditadura lançaram um manifesto cobrando do governo a volta da comissão que atua na busca e identificação de corpos dessas vítimas do regime e que foi extinta no penúltimo dia governo de Jair Bolsonaro. Foi um dos últimos atos do ex-presidente, que sempre negou a ditadura e cultua e memória do torturador Carlos Brilhante Ustra.
O decreto que traz de volta a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos está há três meses na mesa do presidente Lula, que ainda não efetivou o retorno desse colegiado, não assinou e nem o publicou no Diário Oficial. A minuta do decreto foi enviada ao Palácio do Planalto pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Os familiares afirmam, no texto, que seguem sofrendo as “as agruras herdadas da vida marcada por perseguições, tortura e assassinatos de nossos familiares. Há várias gerações acompanhamos diferentes governos sem que tenhamos tido acesso às circunstâncias verdadeiras da morte nem aos corpos de nossos entes queridos. Carregamos o sofrimento dos cruéis e bárbaros assassinatos e o desaparecimento pela ocultação de cadáveres”.
No manifesto, os parentes cobram do governo a volta da expedição de atestados de óbito reconhecendo a responsabilidade do Estado pela morte do militante político vítima do regime militar, a retomada das buscas e identificação dos corpos, oitivas com testemunhas e audiências pública, a reparação aos familiares e também esforços para provocar o STF a reinterpretar a Lei de Anistia e cessar a impunidade de centenas de torturadores e assassinos.
Assinam o documento 203 manifestantes, entre ex-cônjuges, irmãos, irmãs, filhos, filhas, netos, netas, sobrinhos e sobrinhas de mortos e desaparecidos políticos, além de entidades e envolvidos com as questões da justiça de transição e direitos humanos.
Entre as signatárias estão duas remanescentes integrantes da última composição da Comissão de Mortos, que são Diva Soares Santana e Vera Paiva. Elas foram até o final da comissão e se manifestaram contra o fim de seus trabalhos. Mas, naquele momento, a comissão já estava tomada por bolsonaristas colocados lá com seu intuito, de declarar encerrado os trabalhos.
Diva é irmã de Dinaelza Santana e cunhada de Vandick Coqueiro, ambos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Vera é filha do ex-deputado Rubens Paiva, preso, morto e desaparecido pelos agentes da repressão.
“Vamos mobilizar a sociedade e cobrar o retorno da comissão, que foi arbitrariamente extinta no final do governo passado. Essa é uma comissão de lei, da 9.140 (do governo FHC). Não é uma comissão qualquer. Fomos muito bem recebidas pelo ministro (Silvio Almeida, dos Direitos Humanos), mas, pelo que sabemos, o texto já está na mesa do presidente, que é só assinar. Não sei o que o leva a não assinar” – disse Diva Santana ao blog.