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Exclusivo: a segunda censura à peça Roda Viva, agora no governo Bolsonaro

Banner grande que reproduzia documento de censura à peça de Chico Buarque foi retirado do Arquivo Nacional, no governo Bolsonaro

atualizado

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Banner com censura a Roda Viva
1 de 1 Banner com censura a Roda Viva - Foto: Metrópoles

A imagem acima é da sala de atendimento do Arquivo Nacional, em Brasília, de alguns anos atrás. É o local onde os interessados — pesquisadores, estudantes, jornalistas e quem se interessar — pesquisam e buscam documentos e imagens do período da ditadura militar, todos secretos à época e disponibilizados à partir da volta da democracia.

Também na imagem, se vê alguns banners com referência a obras produzidas naquele período. O primeiro à esquerda é o documento assinado pelo censor Mário F. Russomano, ampliado, com sua impressão sobre a peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, de 1968. Como sabido, a peça foi alvo da censura e os atores apanharam, foram alvos da violência de agentes do regime, naquele ano.

Acontece que esse banner da censura à Roda Viva, e os outros, foram retirados da sala do Arquivo Nacional, que é vinculado ao Ministério da Justiça, em 2019, ou seja, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. Foram instalados ali 10 anos antes, em 2009, com o lançamento do portal Memórias Reveladas, no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O material foi retirado, segundo a assessoria de comunicação do Arquivo Nacional, porque estava deteriorado. Nunca voltaram ao local depois. A informação foi que não tinham como ser recuperados e viraram material reciclável.

“Com o intuito de retardar o processo de deterioração das peças, a Superintendência do Arquivo Nacional resolveu expor os banners nas divisórias e paredes para mantê-los limpos e higienizados. No decorrer dos anos, os banners foram sofrendo desgastes naturais como arranhões e descolamentos, até que em 2019 foram retirados em funções dos seus danos. Uma vez que não poderiam ser recuperados, foram descartados como material reciclável pois eram, basicamente, compostos de material plástico” – informou a Divisão de Comunicação Social do arquivo. 

Havia expectativa de que esse material fosse recuperado e retornasse à sala, mas nunca foi.

O banner que estava exposto exibia as críticas do censor à obra – “lamento que o referido espetáculo, é de fato degradante e de certo modo até subversivo” –  e a Chico Buarque – “o autor, seria um débil mental? – de nome Francisco Buarque de Holanda, criou uma peça que não respeita a formação moral do espectador, ferindo todos os princípios de ensinamento de moral e de religião herdados dos nossos antepassados”.

Abaixo, a íntegra do documento.

Documento de censura à peça Roda Viva

Chico Buarque já explicou que Roda Viva é uma paródia do que acontecia nos bastidores e nos palcos dos festivais da canção no final da década de 1960, do qual foi um dos protagonistas, também com a canção “Roda Viva”. Já afirmou que não tinha relação direta com política e diz que a montagem era forte e provocativa.

E seu lançamento se deu às vésperas da edição do AI-5, em dezembro de 1968, ato que endureceu o regime, fechou o Congresso, praticou a censura, prendeu, desapareceu e matou opositores do regime.

“Na verdade, não me sentia um ator do showbusiness. Foi acontecendo por acaso e muito rapidamente. Ficava espantado com aquela coisa dos fãs, de correrem atrás, pedirem autógrafo. Aquilo me deixava bastante incomodado e escrevi a peça até para desanuviar a questão. Me sentia bastante desconfortável enquanto artista popular, popstar. Não tinha nada a ver com aquilo, mas tinha né? Tinha impressão que era algo fora de mim, que não me dizia respeito. E me vi no meio daquela roda viva e quis escrever sobre isso. A ideia foi essa” – contou Chico num depoimento para uma série de DVDs sobre sua obra, produzidos há alguns anos.

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