Esquerda quer levar Pazuello ao Conselho de Ética com quebra do sigilo
Revelação do procedimento disciplinar mostrou que o general disse que foi “surpreendido” a ser chamado a discursar por Bolsonaro
atualizado
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As revelações que surgiram da quebra de sigilo de 100 anos do processo disciplinar que envolveu o agora deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ) num ato político com Jair Bolsonaro, em maio de 2021, atiçaram a esquerda a representar contra o parlamentar no Conselho de Ética.
Com a quebra do sigilo do procedimento decidido agora pelo governo Lula, sabe-se desde ontem que Pazuello comunicou ao então comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira, que iria a um ato político ao lado de Bolsonaro, no Rio.
Na época, Pazuello era general da ativa e tinha deixado recentemente o comando do Ministério da Saúde. Ele afirmou que só subiu no caminhão de som porque foi chamado por Bolsonaro e numa questão de segurança, já que estava sendo assediado pelas pessoas.
Pelo regulamento do Exército, Pazuello cometeu uma transgressão disciplinar porque é proibido militar da ativa “manifestar-se publicamente, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”. Foi o que fez o então general da ativa, hoje na reserva.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), um dos vice-líderes do governo na Câmara, Pazuello deve responder no Conselho de Ética por esse fato por ter, no seu entendimento, mentido no processo.
“Sim (deve ser alvo do conselho). Afinal, ele estava na ativa , infringiu as normas ao participar de ato político e mentiu no processo , sabendo que seria acobertado por sigilo de 100 anos em conluio com o presidente de então.
Não poderia ser candidato se fosse punido pelo crime que cometeu” – disse Correia ao Blog do Noblat.
O fato de a suposta transgressão de Pazuello ter ocorrido fora do mandato de deputado, há jurisprudência no Conselho de Ética para que um parlamentar responda por acusação dessa natureza. Foi o caso da ex-deputada Jacqueline Roriz, cassada por 11 a 3 pelo conselho em junho de 2011, por ter sido filmada recebendo dinheiro num esquema de corrupção no governo do Distrito Federal, fato ocorrido em 2006, cinco anos antes. O plenário, porém, salvou seu mandato.
Para Ivan Valente (PSol-SP), o caso de Pazuello é “muito grave” e deverá ser discutido pela bancada.
“Embora não tenha sido ato praticado no exercício do mandato, é muito grave e pode ser objeto. Vamos colocar para o partido e a bancada se devemos tomar a iniciativa (de representar contra o general no colegiado)” – disse Valente.
No procedimento disciplinar que respondeu, Pazuello disse ter sido “surpreendido quando o presidente me chamou para ficar ao seu lado. Fiquei mais surpreso quando o presidente passou às minhas mãos o microfone para que me dirigisse ao público” – disse Pazuello na peça.
O general afirmou ainda que precisou pensar em fração de segundos o que iria dizer para não fazer um discurso político. E disse: “Fala galera! Não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum, tamo junto hein, parabéns a vocês, parabéns para a galera que vai prestigiando o PR (presidente da República), o PR é gente de bem”.