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“Escândalo dos alimentos” expõe desprezo de Milei com mais pobres

Produtos estragam em armazéns do governo enquanto população passa fome

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1 de 1 Imagem colorida do presidente eleito da Argentina, Javier Milei - Metrópoles - Foto: Reprodução

Se cresce o número de pessoas passando fome em um país, qual a responsabilidade de um governo? Garantir a segurança alimentar da população com políticas públicas, sejam subsídios da cesta básica, transferências de renda ou distribuição de comida. Na Argentina de Milei, o governo não tem nada com isso. Ainda deixou comida estragar nos estoques estatais e descumpriu ordens judiciais para que os alimentos chegassem à população.

Após pressão de movimentos sociais, o juiz federal Sebastián Casanello ordenou que o governo fornecesse um plano para distribuir toneladas de alimentos estocados em armazéns do Estado para as cozinhas comunitárias. O governo Milei recusou-se, alegando que os estoques só seriam usados em caso de emergências ou catástrofes. A Justiça então autorizou uma inspeção em dois armazéns do país.

Além de toneladas de alimentos estocadas num país em que a fome aumenta, descobriu-se que muitos produtos, comprados pelo governo anterior, estão vencidos ou com vencimentos próximos. O mundo desabou sobre os ombros de Sandra Pettovello, ministra de Capital Humano – pasta que absorveu os ministérios da Cultura, Educação, Desenvolvimento Social e Trabalho, entre outras, e os transformou em secretarias.

Como Pettovello é muito próxima a Milei, o presidente prontamente a defendeu e garantiu sua permanência. A culpa seria da oposição e das “máfias” dos movimentos sociais. “O que está acontecendo é que há uma ministra corajosa para enfrentar todos esses criminosos. Não se trata apenas do fato de Sandra Pettovello ser uma ótima ministra. A melhor indicação é que todos os corruptos tentam expulsá-las porque estão desesperados. Milei chamou Pettovello de sua “porta-estandarte na luta contra a corrupção”. “Vocês acham que eu vou desistir da luta contra a corrupção? É a minha bandeira”, afirmou.

O governo apontou os culpados. Quem cuidava da política de segurança alimentar era Pablo de la Torre, secretário da Infância, Adolescência e Família. Foi prontamente demitido. Só que veio à tona, com sua demissão, um sistema de pagamentos para aliados do governo através de desvios de convênios com a Organização dos Estados Ibero-americanos para comprar produtos alimentícios. Mais quatro funcionários foram dispensados.

Toda essa movimentação deve-se à importância das cozinhas comunitárias, que se transformaram na principal ferramenta social para aplacar a fome na Argentina. São mais de 45 mil lugares que fornecem duas a três refeições diárias gratuitamente à população. Eram bancadas pelo Estado nos anos do kirchnerismo, mas com Milei, a comida parou chegar e muitas cozinhas dependem de doações. Detalhe, a maioria dos trabalhadores são voluntários. O governo só precisa fazer os alimentos chegarem.

A oposição afirma que o descaso com alimentação dos mais pobres não se reduz ao ódio de classe ou a crenças libertárias. É um jogo político para enfraquecer os movimentos sociais nas periferias do país.

Um escândalo de corrupção no governo anticorrupção. Acordos políticos com a “casta” que iria ser destroçada. Crise do combustíveis. Demissão do chefe de gabinete. A queda da atividade econômica no primeiro trimestre foi maior que a esperada, de 5,3% no PIB. Mas enquanto os números do superávit primário brilharem, tudo estará bem para Javier Milei, que viaja pelo mundo para divulgar suas crenças econômicas irrealistas e sua pauta de extrema-direita, ao invés de assinar acordos comerciais para salvar a economia do país.

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