Enquanto uns destroem, outros restauram obras raras de Di Cavalcanti
No Planalto, terroristas bolsonaristas destruíram quadro; no Teatro João Caetano, no Rio, dois murais raros do artista foram restaurados
atualizado
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A ação dos terroristas bolsonaristas no domingo passado destruiu o quadro “As mulatas”, do pintor modernista Di Cavalcanti, que estava no Palácio do Planalto. Foram seis perfurações na obra do artista, um dos mais valorizados no mercado externo.
Enquanto isso, no Rio, dois enormes murais raros de Di Cavalcanti – “Samba” e “Carnaval” – acabam de se ser restaurados no Teatro João Caetano. São os primeiros murais do artista e considerados dos mais importantes da América do Sul.
O João Caetano é o mais antigo teatro do Rio e está sob a tutela da Funarj, vinculada ao governo do Estado do Rio. A restauração nas obras, dos anos 1929 e 1930, foi profunda, para restituir a qualidade estética dos murais, considerados os mais modernistas.
O coordenador de Museus da Funarj (Fundação Anita Mantuano de Artes do Rio), Douglas Fasolato, afirma que se trata de um restauro histórico, que, além de restituir os valores estéticos as obras, promove o acesso, a fruição e a valorização dos murais.
“E tudo feito sem uso de leis, sem editais. Tudo por conta da gestão pública. Restaurando este painel estamos assumindo a responsabilidade do estado em preservar e divulgar os acervos. Qualquer poder público que tem sob sua guarda obra e prédios deve assumir essa responsabilidade e com recursos de seu orçamento” – disse Fasolato.
Os murais estão localizados no foyer do segundo piso do teatro e tem 5,5 metros de altura por 4,5 metros de largura. São pinturas executadas com tinta a óleo e com a temática popular – samba e carnaval -, o que não era comum na época.
“As figuras são representadas de forma a criar a ilusão de que estão dentro do foyer, convivendo no nosso espaço, dançando e cantando conosco. Esta forma de situar as figuras é extremamente avançada para a época e é, certamente, um reflexo da pintura francesa do período que Di Cavalcanti havia visto alguns anos antes – diz o professor Edson Motta Júnior, da Escola de Belas Artes da UFRJ, que liderou o projeto de restauração, que durou seis meses.
Para realizar o trabalho no prazo de seis meses, foi formada uma equipe de 16 pessoas, sendo 10 restauradores e 4 estagiários. O projeto de restauro também contou com a colaboração de três cientistas e professores da UFRJ especializados em análises de obras de arte: Márcia Rizzo, Milena Barbosa Barreto e Daniel Lima Marques Aguiar. Seus achados contribuíram muito para o bom andamento do restauro.