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Do sonho socialista a refém do neoliberalismo

Socióloga afirma que o discurso neoliberal dominou partidos de esquerda no Ocidente

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Ilustração mão com 4 dedos manipula o fantasma do comunismo
1 de 1 Ilustração mão com 4 dedos manipula o fantasma do comunismo - Foto: Arte/Metrópoles

Não faz muito tempo, os partidos de esquerda eram sinônimo de crítica, revolta e um projeto para transformar a sociedade enfrentando suas desigualdades. (Ainda é essa imagem, no discurso calculadamente falso da direita, que chama Lula de comunista). Hoje consolidou-se seu papel de defender a democracia de mercado contra os avanços da extrema-direita, sem propostas que despertem as esperanças de um futuro melhor para a população. Como isso aconteceu?

A socióloga Stephanie L. Mudge, autora de Leftism Reinvented: Western Parties from Socialism to Neoliberalism (sem publicação no Brasil), tem parte da resposta, oferecida em entrevista ao podcast The Dig e traduzida para o português pelo site Jacobin Brasil. Ela argumenta que as crises econômicas forçaram os partidos de esquerda no Ocidente a mudar seus discursos. Deixaram o socialismo para abraçar o keynesianismo e a partir dos anos 1990, foram assaltados pelo neoliberalismo.

Mirando partidos na Suécia (Social-Democrata), Inglaterra (Trabalhista), EUA (Democratas) e Alemanha (Social-Democrata), Mudge separa sua análise em três épocas. A socialista entre 1880-1920; a keynesiana entre os anos 1930-1960, em que o crescimento econômico supera a ideia de uma sociedade igualitária; e a neoliberal, com a chegada da Terceira Via nos anos 90. Apesar das lutas internas, o discurso pró-mercado, sobretudo quando esses partidos vencem as eleições, seduz suas lideranças e as afasta de seu eleitorado mais fiel.

Ela resume: “a história da neoliberalização de partidos da esquerda, é a história de como esses partidos passaram a representar o mercado como seu eleitorado central, em oposição a seus eleitorados históricos, incluindo o movimento sindical, mas também os trabalhadores em geral e as pessoas menos privilegiadas e menos poderosas”.

A famosa frase, “é a economia, estúpido” ganha intenso significado, sobretudo em sua razão eleitoral. Se alguns partidos de esquerda não aderissem ao discurso economicista, caminhando para a centro-esquerda e para o centro, seriam esquecidos pela urnas, como aconteceu, em parte, com a extrema-esquerda.

É o mesmo cálculo dos conservadores no Brasil recente. Um retrato da maioria dos partidos de direita no mundo era, até o início dos anos 2010, de um punhado de tecnocratas com um discurso econômico neoliberal que se impunha nas urnas, em parte, por ter apoio das elites, da imprensa e por se aproveitar dos erros estratégicos da esquerda. Lembre-se do PSDB.

Com a chegada do PT ao poder em 2002, manteve-se a plataforma econômica de FHC e intensificou-se o investimento em programas sociais. Esse campo ficou sem lugar e foi forçado a dar um passinho à direita. E mais um. E outro. Com o tempo, foi engolido pela extrema-direita, que enxergou muitas vozes conservadoras sem representação. Potencializado pelas fake news, deixou a insignificância caricata e se transformou em força política em boa parte do mundo. O conservadorismo preservou sua visão econômica e a mudança foi a aproximação com o fascismo.

Ao que parece, a esquerda institucional está nesse não-lugar visitado pelos partidos de direita. Distante de seu eleitorado histórico, sem dialogar com os jovens ou a população mais pobre, sem novas lideranças. Se antes o mote era distribuir renda, hoje o projeto é no máximo (como aconteceu em Lula 1 e 2) aumentar a renda sem ameaçar os ganhos da elite. Um exemplo é a briga entre Lula e o BC e as pressões do mercado para controlar os gastos do governo. Juros baixos e mais investimentos públicos são migalhas perto das verdadeiras demandas estruturais do país. Radicalização da esquerda é o que resta?

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