Deputados gastam R$ 2 milhões da cota com impulsionamento nas redes
Montante é referente ao período de 2019 a 2021, ano em que 96 parlamentares usaram quase R$ 1 milhão com anúncios no Facebook
atualizado
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O impulsionamento de anúncios e mensagens de deputados federais nas redes sociais, pago com dinheiro público, aumenta a cada ano e mais que dobrou somente nessa legislatura. Saiu de R$ 439 mil, em 2019, para R$ 965,8 mil em 2021. Nesse material, os parlamentares vendem seus “peixes” e alardeiam principalmente as verbas e obras que destinaram para seus redutos eleitorais.
Nessa prestação de contas dos deputados à Câmara, as notas fiscais do Facebook aparecem com a descrição “conjunto de pedidos de inserção de anúncios na internet”. Os parlamentares usam verba da cota parlamentar, destinada à “divulgação da atividade parlamentar”, para pagar essa despesa.
O gasto com o Facebook, ano passado, já apareceu no oitavo lugar como a maior despesa de toda verba que um deputado tem direito. Só foi inferior a pagamentos com passagens aéreas, aluguel de veículos e gastos com telefone e Correios.
Nos três anos dessa legislatura não apenas cresceu o número de deputados que usam a cota com o Facebook – 73 (2019), 84 (2020) e 96 (2021) – , mas também a média de valor gasto por deputado. Em 2019, o gasto médio anual por deputado era de R$ 6 mil e saltou para R$ 10 mil em 2021.
Nesses três anos, o deputado Weliton Prado (PROS-MG) foi o que mais gastou recursos da cota com o Facebook. O parlamentar mineiro despejou R$ 197,4 mil com anúncios na internet, o que representa 10% do total. Procurado pelo Blog do Noblat, o deputado não retornou ao contato.
Considerando 2021, Célio Studart (PV-CE) foi o que mais gastou, com R$ 79,7 mil. O deputado afirmou que o gasto com redes sociais estão se tornando preferência pela agilidade e alcance com que atinge seus seguidores. Ele disse que esse meio tem substituído o jornal impresso que os parlamentares têm o hábito de produzir, também com recursos da cota, com prestação de contas de seus mandatos. E diz ser mais vantajoso para dar publicidade à sua imagem. Studart contou que abriu mão de carros oficiais e consultorias.
“Sou de uma leva de políticos que viveram a política nas redes sociais. O alcance é muito maior que a mídia tradicional. Investir ali é como você tirar um outdoor de uma rua sem saída e colocá-lo na avenida de maior visibilidade” – disse Studart.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi a terceira, entre os 96, que mais gastou com anúncios no Facebook e no Instagram ano passado: R$ 51,9 mil. A petista informou que o uso da cota da Câmara é previsto em ato da Mesa, de 2009.
“Diante disso, investimentos em comunicação, com prestação de contas do mandato, de emendas destinadas aos municípios e instituições do Estado e de projetos apresentados são legítimos e legalmente ressarcidos pelo Legislativo” – informou Gleisi, por intermédio de sua assessoria.
Quarto lugar nessa relação, Elias Vaz (PSB-GO) gastou R$ 43,6 mil em 2021 com impulsionamento nas suas redes. O deputado afirmou que não teve gastos com divulgação em nenhuma outra mídia, seja rádio, TV, gráfica ou outdoor.
“O deputado optou pela ferramenta de impulsionamento no Facebook para dar transparência ao mandato. Elias Vaz considera a opção com melhor custo-benefício e maior alcance que outras mídias. O eleitor tem o direito de saber como está sendo conduzido o mandato e o deputado tem o dever de cumprir o princípio da transparência” – afirmou o parlamentar, por sua assessoria.
O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) gastou, nesses três anos, R$ 71,1 mil com essas inserções. Desse total, R$ 43,2 mil foi em 2021. O parlamentar afirmou que praticamente não se usa mais outra forma de divulgação que as redes sociais. O deputado já foi duas vezes prefeito de Sorocaba e está no seu segundo mandato de deputado federal. Para ele, o informativo impresso com dados do mandato está em desuso.
“A rede social é uma forma mais rápida e oportuna de fazer a divulgação do nosso trabalho. A maioria das pessoas não tem a menor ideia do que a gente faz. Que deputado não faz nada, é um vagabundo. Esse contato precisa ser via redes sociais, onde, quem fez algo de fato por sua região, apresenta ali. Uso esse recurso com responsabilidade, dentro da lei e dos preceitos éticos” – disse Lippi.
Essas inserções de anúncios na internet são postagens pagas que permitem o usuário direcionar a mensagem para um público específico, de uma determinada região ou reduto eleitoral. O posts são enviados de forma direta para os usuários das redes, independente de ser seguidor, no Facebook e no Instagram.
Esse impulsionamento amplia o número de seguidores dos parlamentares. Gleisi Hoffmann, por exemplo, em 2021, conquistou 85,2 mi seguidores, saltando para um total de 1,6 milhão.
Para a advogada Janaina Rolemberg, especialista em direito eleitoral, as redes sociais é o meio de comunicação dominante e a melhor forma de se chegar a sociedade. Ela considera importante a prestação de contas feitas pelos deputados nas redes, mas afirmou que é preciso impedir a promoção pessoal.
“A princípio, não tem ilegalidade, desde que o recurso e o uso nas redes das mensagens sejam feitos de forma correta. A própria pandemia aumentou o uso da internet pelos parlamentares. É uma prestação de conta importante para político e para o eleitor. Talvez tenha um custo mais barato que o impresso. O que não pode é haver desvirtuamento e uso indevido e promoção pessoal” – disse Janaina Rolemberg, também integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).