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Denúncia de violência doméstica isola Alberto Fernández

Nenhuma voz saiu em sua defesa, só há críticas, ataques e especulações de aliados e adversários.

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1 de 1 Imagem colorida de Alberto Fernández e Fabiola Yáñez - Metrópoles - Foto: Spencer Platt/Getty Images

Um presidente impedido de concorrer à reeleição por sua impopularidade tem um fim de mandato melancólico. É esquecido durante a campanha eleitoral e só volta a existir na transição do cargo. Depois, resta viver sob o véu da indiferença. Foi assim com o ex-presidente argentino Alberto Fernández, que agora volta ao noticiário com a denúncia de violência doméstica de Fabiola Yáñez, sua ex-mulher. E nesse retorno, ele percebeu que nenhuma voz saiu em sua defesa.

O ex-presidente negou as acusações. “Só vou dizer que é falso e que aquilo de que vocês agora me acusam nunca aconteceu. Pela integridade de meus filhos, de mim mesmo e também de Fabíola, não vou fazer declarações à mídia, mas vou levar as provas e os testemunhos à justiça”, escreveu em comunicado no X. Desde então, só críticas, ataques e especulações de aliados e adversários.

Para agravar sua situação, o site Infobae divulgou imagens de Yáñez com hematomas no olho direito e nos braços, anexadas ao processo judicial. São mensagens que a ex-primeira-dama enviou a Fernández para reclamar de sua violência. Em uma foto com o olho roxo, ela escreveu ironicamente: “Isso é de quando você me bateu sem querer”. Na última sexta-feira, a Justiça fez uma operação de busca e apreensão no apartamento de Fernández e confiscou seu celular. O motivo da medida foi verificar se o ex-presidente tentou se comunicar com sua ex-parceira após ser notificado da proibição de qualquer contato.

Fernández pensa em suicídio? O jornalista Claudio Saviola disse que o ex-presidente não recebe visitas e “pelo menos duas vezes nos últimos três meses”, teria dito a Fabiola Yáñez que tiraria sua própria vida se ela o denunciasse. “O último sábado foi um dia muito difícil, em que houve muita preocupação nesse sentido”, escreveu Saviola.

Outra jornalista, Mercedes Ninci, que diz conhecer Fernández “desde sempre”, foi categórica em uma entrevista a uma rádio: “Não me surpreende nada. Ele é uma pessoa de reações violentas”. Ela afirmou que três funcionários da Quinta de Olivos, residência oficial, assistiram a Fernández agarrar Yáñez pelos dois braços com muita força, agarrou-a pelos cabelos e a sacudiu de um lado para o outro”.

No X, muitos posts lembrando frases do antigo aliado de Cristina Kirchner: “Tenho vergonha de que na Argentina uma mulher sofra violência de gênero”, disse no Dia da Mulher em 2022. Outra: “Devemos entender de uma vez por todas que isso não pode continuar acontecendo e denunciar as pessoas violentas que, simplesmente por causa de seu gênero, subjugam uma mulher”, discursou em 2021. “Prometo a vocês que serei o primeiro feminista”, bradou em evento oficial no mesmo ano.

O movimento feminista peronista não teve dúvida de qual lado escolher. A ex-ministra da Mulher, Elizabeth Gómez Alcorta, expressou sua solidariedade à ex-primeira-dama e criticou os ataques às feministas e ao seu trabalho na pasta, que foi extinta por Javier Milei. “Fabiola nunca me contou sobre essa situação. Ninguém pode duvidar do que eu teria feito nesse caso”.

Falando no atual mandatário, é evidente que Milei teceria comentários. Em carta publicada no X nesta quarta-feira (7), com o título “A hipocrisia progressista”, Milei usou o caso para fazer sua propaganda liberal: “A solução não é criar um Ministério, não é contratar milhares de funcionários públicos, não são cursos de gênero e definitivamente não é colocar sobre todos os homens uma responsabilidade apenas pelo fato de serem homens”, escreveu o presidente. E aproveitou para atacar a oposição: “eles [esquerda] podem bater, maltratar, estuprar, roubar e qualquer outra atrocidade posando de benfeitores. O caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções”.

Fernández ruminava seu ostracismo entre aulas de Direito e a solidão de seu apartamento portenho no bairro de Puerto Madero. Agora está mais isolado do que nunca. Terá muito trabalho para se defender e talvez seja em vão. Afinal, uma mulher, quando decide denunciar uma violência, ainda mais contra um homem poderoso, sabe dos riscos que corre. E o apoio a Yáñez foi maciço.

A Justiça argentina impediu Fernández de sair do país e se aproximar de Yáñez, que mora em Madri com o filho do casal. Segundo o Página 12, ela prepara um documentário que se chamaria “Fabiola, a verdade” e contaria os bastidores da relação entre Alberto e Cristina e denunciaria casos de corrupção.

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