Defesa que Lira faz do orçamento secreto é frágil e não se sustenta
Presidente da Câmara diz que nada é sigiloso, que deputado cansou de frequentar fila em ministério e que só eles conhecem Brasil de verdade
atualizado
Compartilhar notícia
Os três principais argumentos de Arthur Lira em defesa do orçamento secreto são os seguintes: não é secreto, é municipalista; acabou com fila de deputados com pires nas mãos nos ministérios; e ministérios não conhecem os problemas do interior do país como um deputado de uma determinada região.
Todos frágeis e contestáveis. Com folga.
Sim, o orçamento é secreto. Não se sabe o valor exato, o autor correto, quem é o beneficiado e se a obra é necessária de fato. Isso, publicamente. Porque o deputado sabe que é recurso dele, para qual obra irá destinar e quem é seu afilhado político – que é seu cabo eleitoral – que será beneficiado. E vai depois celebrar em redes sociais e usar em propaganda eleitoral.
Sobre “fila de deputados” nos gabinetes de Brasília. Não é bem assim. Foi o tempo que parlamentares passavam o pires e ficavam à míngua. Hoje, parte do orçamento é impositivo, ou seja, é obrigado a ser pago. Ainda tem emendas de bancadas e as de cada um. E, outra coisa: cada gabinete de deputado tem um servidor especialista em orçamento, pago pelo erário, para auxiliar nesse trabalho. E, quando preciso, ir para antessala de ministro.
O argumento de que o Executivo, via os ministérios, desconhece o interior do país e são os deputados os verdadeiros conhecedores dos problemas de suas bases eleitorais é pouco aceitável. Ministérios são compostos por técnicos. Ministérios têm extensão e repartições nos estados. Ministérios sabem sim quais as prioridades e necessidades do país. Se o governo tem boa vontade, faz. As obras e benefícios para a população mais carente chegam. Se compromisso e responsabilidade há.
Arthur Lira usa, desde sempre em defesa do orçamento secreto, argumentos frágeis. Mas é do interesse de boa parte da Câmara, Centrão em especial, que seja dessa maneira. O mau hábito se vê agora: os parlamentares não querem abrir mão de um naco dessa dinheirama.