Congresso da UNE tem recados a Lula e Haddad: “Ganhar eleição não basta”
Estudantes pedem fim do arcabouço fiscal, mais investimentos na educação pública e cobram melhor articulação do governo com o Congresso
atualizado
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A abertura do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) reuniu ao menos 10 mil estudantes e militantes na Universidade de Brasília, na quarta-feira (12/07). O evento contou com a presença de jovens de todo o país, ministros, deputados e reitores de universidades federais.
O evento ficou marcado pelas vaias contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. O juiz chegou a dizer que aqueles que o vaiavam agiam como “bolsonaristas”.
Este é o primeiro congresso presencial da UNE desde 2019, ano anterior à pandemia de covid-19. Apesar do clima de comemoração pela “derrota do fascismo” representado por Jair Bolsonaro (PL), os estudantes também prometeram cobrar do presidente Lula (PT) mais investimentos na educação e a revogação do arcabouço fiscal “de Haddad”. O presidente da República é esperado para o evento hoje (13/07), no Ginásio Nilson Nelson.
“A gente comemora a vitória de Lula, mas com o pé no chão”, diz Guilherme Targino, mineiro de 28 anos. “Mas só a vitória não basta. A gente tem que ir além. A gente apoia o governo até um limite, desde que haja uma convergência do próprio governo com o Congresso”, completou.
Para Guilherme, esta edição do congresso é uma das mais importantes da história da UNE: “A gente sai de um período muito difícil, um período muito conturbado, de um governo fascista, pandemia. Agora é a hora de diversas forças e do cidadão comum entrarem no poder”, disse.
Já para Cecília Lima, 21, Lula não representa os estudantes no Palácio do Planalto. A amapaense diz que a vitória do petista deve ser comemorada pelo fim da “represália bolsonarista”, mas que Lula atende interesses do neoliberalismo, mesmo estando à esquerda. “Nós somos contra o arcabouço fiscal de [Fernando] Haddad e precisamos fazer com que a entidade [UNE] seja mais combativa nessa luta”, disse a estudante.
Ela critica que a UNE é representada pelo “mesmo movimento político há 30 anos” e que a entidade tem sido “chapa branca” com os governos petistas.
O estudante Kuarasy Mebengokre Tupinambá, 21, enaltece o papel da UNE na política brasileira. “Fundou a Petrobras, derrubou o [Fernando] Collor e fez com que o [Michel] Temer não acabasse mais com o Brasil”, disse.
O indígena, que viajou até Brasília de ônibus desde Uberlândia (MG), também defende a revogação do arcabouço, que, segundo ele, representa o desmonte da máquina pública. “Ele [o teto] não vai limitar só a educação, como várias outras áreas. Não dá para crescer com essas dificuldades”, completou.
Além das pautas econômicas, um dos discursos no palco do congresso pediu a descriminalização da maconha e a legalização do aborto. Quem falou sobre isso foi a presidente do Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães da UNB. Luísa Valadares, 21, afirmou que todas as lutas da sociedade devem ser representadas também pelos estudantes. “Governo, estudantes e classe trabalhadora devem andar juntos”, avalia.
“Depois do governo Bolsonaro, nós temos conseguido reabilitar os estudantes para que eles estejam nas ruas, de ponta de lança, na linha de frente, para avançar nos direitos sociais”, completa.