Citados na CPI seguem pregando contra a ciência e de olho na eleição
Três meses após aprovação do relatório final da comissão, políticos, autoridades e apoiadores do governo seguem impunes e nada mudaram
atualizado
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No próximo dia 26 terá completado três meses da aprovação do relatório final da CPI da Covid-19, do Senado. Mas absolutamente nada aconteceu contra um nome sequer das dezenas de citados – 80 no total – que constam no pedido de indiciamento.
Ao contrário, autoridades do governo que pregavam contra a ciência, o uso de medidas sanitárias e atuaram para atrasar a aplicação das vacinas no país seguem impunes e a maioria dela segue no cargo que ocupava antes, casos de Mayara Pinheiro, a capitã cloroquina, Hélio Angotti, como ela secretário no Ministério da Saúde e o próprio Marcelo Queiroga, ouvido várias vezes na comissão e que segue no cargo.
As sugestões de indiciamento feitas pela CPI da Covid envolvem políticos, autoridades do governo, empresários e o próprio presidente da República e vários de seus apoiadores. Eles são acusados de crimes contra a humanidade, epidemia com resultado morte, prevaricação, incitação ao crime e formação de organização criminosa, entre outros.
E nada mudou para eles passado esses três meses: ninguém se intimidou, abandonou o cargo no governo e deixou de manifestar suas posições que batem de frente com as orientação da OMS, da Anvisa e especialistas da área. E quem está no governo continua adotando posições e medidas que chocam a opinião médica e científica balisada.
Um exemplo se viu ontem. O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Helio Angotti, decidiu sozinho rever a posição da Conitec contrária ao uso da hidroxocloroquina e publicou portaria desconsiderando essa posição pró-ciência aprovada pela maioria. Angotti, que é acusado pela CPI dos crimes de epidemia com resultado morte e incitação ao crime, ainda inseriu na sua decisão que a medicação dá resultado no combate ao vírus e que a vacina, não.
A “capitã cloroquina”, que também segue no ministério, segue nas redes sociais com discurso negacionista. Ela agora faz campanha contra a vacinação infantil. A CPI pede seu indiciamento por crime contra a humanidade, epidemia com resultado morte e prevaricação. Ela é candidata a deputada federal pelo Ceará, ainda sem partido definido.
Em postagem nas suas redes há menos de uma semana, ela demonstrou contrariedade com a decisão da Anvisa a favor da vacinação em crianças entre 5 a 11 anos. “A terra tem 204 países. Desses, 39 recomendam vacinação de crianças. O número não corresponde nem a um quinto no total de nações. Nos 39 que recomendam, a maioria é somente para crianças com comorbidades. Pense nisso!”.
Também citada na CPI, por incitação ao crime, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) divulgou recentemente dados sigilosos e pessoais de três médicos favoráveis à adoção de medidas restritivas e pró-vacinação das crianças. Eles chegaram a receber ameaças.
“Tanto interesse em saber quem vai se responsabilizar por um suposto vazamento de dados de um documento de médicos e nenhum interesse em saber quem vai se responsabilizar por eventuais danos por efeitos colaterais das “vacs” em nossas crianças” – escreveu Kicis, que, por isso, já é alvo de uma denúncia no Ministério Público e deverá ser alvo de representação no Conselho de Ética da Câmara. É candidata à reeleição.
Outras figuras citadas e que integraram o chamado “gabinete paralelo” também continuam atacando medida sanitárias e se preparam para disputar as eleições deste 2022. São os casos da médica Nise Yamaguchi, com pedido de indiciamento por epidemia com resultado morte, e que é pré-candidato ao Senado por São Paulo, e o empresário Luciano Hang, também no relatório e acusado de divulgar fake news (incitação ao crime) e que deve disputar o Senado por Santa Catarina, com o apoio de Bolsonaro.
Os senadores que atuaram na CPI a favor da punição para os contrário à ciência falam em reabrir a CPI no reinício da legislatura neste ano. Entendem haver fatos mais que suficientes.