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Candidato a vice pelo Novo contraria ala bolsonarista e irá votar nulo

Líder do partido na Câmara, o deputado Tiago Mitraud (MG) conta ao blog que não se sente contemplado nem por Lula e nem por Bolsonaro

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Divulgação/Câmara dos Deputados
deputado federal Tiago Mitraud na tribuna da Câmara dos Deputados
1 de 1 deputado federal Tiago Mitraud na tribuna da Câmara dos Deputados - Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

Ao contrário das manifestações de quase toda sua bancada e dos líderes de seu partido, o Novo, o deputado federal Tiago Mitraud não irá votar em Jair Bolsonaro neste segundo turno. Candidato a vice-presidente na chapa do partido, encabeçada por Luiz Felipe D´avila, Mitraud irá anular seu voto.

O parlamentar é o líder da bancada do Novo na Câmara. Em entrevista ao Blog do Noblat, ele afirmou não se sentir contemplado nem por Bolsonaro nem por Lula. Critica ambos. De comportamento diverso da bancada que lidera – majoritariamente bolsonarista – o deputado não é de estardalhaço nas redes. Não comentou publicamente  a declaração de voto de João Amoêdo ao petista. Prefere tratar esse assunto internamente.

O deputado avalia que o desempenho da chapa na eleição – obteve apenas 0,5% dos votos, contra 2,5 % de Amoêdo em 2018 – foi comprometido pela polarização entre dois candidatos – Lula e Bolsonaro – que deixaram pouco espaço para os concorrentes. A redução da bancada federal, dos atuais 8 para 3 deputados, também foi atingida por essa centralização.

Segue a entrevista.

Blog do Noblat – O sr. está encerrando seu primeiro mandato de deputado, é novo, e vai deixar a Câmara. Algum desencanto com o Congresso?

Tiago Mitraud – Não é uma questão de desencanto. Não entrei na política para fazer carreira. Tinha carreira na iniciativa privada. Dada a situação, a necessidade de se ter novas lideranças, entendi que poderia dar alguma contribuição. Não tinha interesse em perpetuar. Essa necessidade de muitos de ter vários mandatos nunca foi uma necessidade minha.

Blog do Noblat – Por que aceitou em ser candidato a vice-presidente?

Mitraud – Achei que seria uma oportunidade interessante, uma nova experiência. Ajudar numa campanha presidencial.

Blog do Noblat – Sobre o resultado, a votação da chapa do Novo na disputa ficou bem abaixo da que teve João Amoêdo como cabeça de chapa em 2018? Por quê?

Mitraud – Foram campanhas diferentes. O cenário de 2018 era outro. Não só o desempenho do Novo ficou aquém, mas de outros também. O Ciro Gomes também ficou aquém de 2018. Essa disputa teve essa característica de que 90% dos votos ficaram concentrados nos dois primeiros candidatos (Lula e Bolsonaro). Tanto que a Simone Tebet ficou em terceiro este ano (com 4,2% dos votos),  mas com menos votos que o Alckmin em 2018 (4,7% dos votos), que ficou em quarto naquela votação. Não foi só o Novo. Teve uma concentração de votos em dois candidatos como nunca se tinha visto. Outro fator foi o tempo da escolha, o Felipe foi escolhido mais tarde do que em 2018.

Blog do Noblat – A bancada do partido na Câmara também sofreu uma redução, de 8 para 3 deputados.

Mitraud – Tem fatores externos e internos. No Legislativo, a disputa esteve muito vinculada à campanha presidencial. Essa concentração se viu também na disputa para deputados, senadores e governadores. São pouquíssimos os casos dos que se elegeram sem estar abraçado a Lula ou a Bolsonaro. No nosso campo da direita e da centro-direita o PL absorveu muito (elegeu 99 deputados). Em Minas, o deputado mais votado (Nikolas Ferreira) recebeu 1,5 milhão e compete com o público do Novo. Em 2018 não teve isso. O pessoal do livre mercado, do menos Estado, estava mais diluído. Mas a esquerda também sofreu perdas no Congresso, casos do PDT e PSB. Além da polarização, teve impacto também o fundão eleitoral, as emendas de relator e o orçamento secreto. Verbas estratosféricas, que não usamos.

Blog do Noblat – Boa parte da bancada do Novo na Câmara se mostra bem bolsonarista. A que atribui?

Mitraud – Nesses quatro anos tivemos uma posição bastante independente do governo. Falam que votamos muito com o governo, mas os números mostram outra coisa. Somos o 14º ou o 15º partido que mais vota com o governo. Só não votamos menos que os partidos de esquerda. Nas pautas econômicas, estivemos juntos com o governo, casos das reformas previdenciária e administrativa, Lei da Liberdade Econômica, Lei do Gás, MP do ambiente de negócios. Mas de 2020 para cá, com o governo entregue ao Centrão, as pautas mudaram. E o Centrão passou a receber emendas e cargos. E a gente não faz isso. Agora, neste segundo turno, tem muitos dos nossos que estão engajados ativamente na campanha de Bolsonaro. Isso em função de quem é o adversário de Bolsonaro.

Blog do Noblat – E o senhor? Tem seu voto definido, fez sua escolha?

Mitraud – Infelizmente, vou repetir meu voto de 2018. E votarei nulo. Não me vejo em condições de apoiar nenhum dos dois. Nenhum dos dois se aproxima daquilo com que me comprometi a defender no Congresso. Mas respeito quem está tomando lado e há razões racionais para essas decisões. Não tenho condições políticas de apoiar um ou outro. Historicamente sou bastante crítico ao PT e critico também aos vários absurdos feitos pelo Bolsonaro.

Blog do Noblat – Como o sr. recebeu o apoio de João Amoêdo a Lula? O sr. foi um dos poucos do partido que não se manifestou nas redes sobre.

Mitraud – Já tenho essa postura de não levar para as redes críticas que venha a ter a outros correligionários. Prefiro  internamente direcionar minhas sugestões do que levar isso a público.

Blog do Noblat – Qual avaliação do sr. sobre o governo Bolsonaro?

Mitraud – Teve avanços, como disse, nesses pontos da economia que votamos juntos. Mas não avançou na reforma administrativa, que era até desejo da equipe econômica. Mas Bolsonaro não quis. Ele não tem convicção liberal. No combate à corrupção ficou muito aquém. Ele se filiou a um partido cujo presidente (Valdemar da Costa Neto) é um ex-condenado por corrupção no escândalo do mensalão. No governo, não combateu a corrupção no MEC, a história das barras de ouro, o orçamento secreto, que é dele, quem enviou o PLN para o Congresso. Do lado do PT, tem problemas muito graves, como o petrolão e o mensalão. A intervenção que fizeram na economia também, em 2015. Temos duas candidaturas que não representam na plenitude o que gostaria.

 

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