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As guerras do Brasil na América do Sul (por Ricardo Guedes)

O brasileiro é um povo pacífico? Nem tanto

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Na foto, avião KC-390 da FAB - Aviao para resgatar brasileiros na guerra de israel
1 de 1 Na foto, avião KC-390 da FAB - Aviao para resgatar brasileiros na guerra de israel - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Pelo Tratado das Tordesilhas, que delimitava as terras portuguesas em uma linha reta da atual Belém do Pará até Laguna em Santa Catarina, a área original do Brasil era de cerca de 1/3 dos 8,5 milhões de km2 atuais. No período colonial, a expansão do Império Português para o oeste foi pouco conflitiva com os espanhóis e seus descendentes, limitados os países hispânicos pela Cordilheira dos Andes. Mas ao Sul, na Bacia do Rio da Prata e do Rio Paraná, a expansão foi significativamente conflitiva e com guerras. Os dados não são exatos, mas dão-nos a indicação da ordem de grandeza.

No século XIX, foram cinco os principais conflitos:

  1. A Guerra da Independência do Brasil ocorreu de 1822 a 1824, com dados oficiais indicando a morte de 3.000 soldados, com fontes e autores estimando em até 20.000 mortes entre combatentes militares e civis. Na Revolução Americana, de1776 a 1783, que resultou na Independência dos Estados Unidos, estima-se a morte de 6.800 soldados, com fontes e autores indicando em até 25.000 e 70.000. Ambas as guerras foram de significativas proporções em nossos continentes.
  2. A Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, e que resulta na formação da República Oriental do Uruguai. A Guerra transcorreu com cerca de 30.000 combatentes pelo Brasil e 40.000 pela Argentina, com 7.500 baixas para os dois lados, em guerra de proporções,
  3. A Guerra do Prata, entre o Brasil e a Argentina, ocorreu de 1851 a 1852, com a Argentina objetivando a anexação de partes das regiões do Prata. Lutaram na guerra 42.000 soldados brasileiros e 34.500 soldados argentinos, com estimativas que variam de 600 a 6.500 mortos e feridos pelo lado brasileiro, e de 1.200 a 11.000 mortos e feridos pelo lado argentino.  Na Guerra do México, entre os Estados Unidos e o México de 1846 a 1848, estima-se que lutaram 73.500 americanos e 82.000 mexicanos, com cerca de 1.700 americanos mortos e 4.100 feridos, e 5.000 mexicanos mortos e 20.000 feridos.
  4. Na Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870, com o Paraguai objetivando uma saída para o Atlântico, morreram cerca de 440 mil pessoas em ação; 100 mil brasileiros; 30 mil argentinos; 10 mil uruguaios; e 300 mil paraguaios; o Brasil anexando partes do atual Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, antes do Paraguai. Na Guerra Civil Americana, de 1861 a 1865, morreram cerca de 650 mil pessoas em ação, com parcela significativa dos jovens americanos. Foram guerras vultuosas na história de nossos continentes. 92% dos homens e 67% do total da população do Paraguai morreram, às vezes referenciado como “genocídio” por algumas fontes.
  5. A Guerra do Acre entre o Brasil e a Bolívia decorreu de 1899 a 2003, devido a áreas de extração de borracha e reservas minerais, na ocupação por colonos brasileiros dessas áreas, então da Bolívia. A guerra resultou na anexação do Acre pelo Brasil, através de negociações e indenizações ao final do conflito. A Bolívia lutou com cerca de 600 a 700 combatentes, o Brasil com cerca de 4.000 a 8.000 combatentes. Não há registro do número de mortos e feridos.

No item da segurança pública, dados do Banco Mundial para 2021 mostram que o Brasil conta com 27 homicídios ano por 100 mil habitantes, México 29, Uruguai 12, Paraguai 7, Bolívia 6, Argentina 5, Estados Unidos 5, Europa 3, China 0,5, Japão 0,3.

A pacificidade do povo brasileiro é um mito.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago, CEO da Sensus, e Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro

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