metropoles.com

Vacinados, apesar de Bolsonaro

O País chegou até aqui graças à mobilização da sociedade contra os atos de um presidente que quer tudo, menos o bem-estar de seus governados

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Gustavo Moreno/Especial para o Metrópoles
vacina
1 de 1 vacina - Foto: Gustavo Moreno/Especial para o Metrópoles

Editorial de O Estado de S. Paulo (16/10/2021)

Após mais de um ano e meio de sofrimento e privações de toda sorte, grande parte dos brasileiros voltou a experimentar uma relativa sensação de normalidade. A pandemia de covid-19 arrefeceu no País na exata proporção em que avançou a vacinação contra o coronavírus. Na quarta-feira passada, o Brasil atingiu a marca de 100 milhões de pessoas totalmente imunizadas, ou seja, que completaram o esquema vacinal com duas doses ou com dose única, caso da vacina da Janssen. Isso significa que quase a metade da população (47,11%) está, enfim, protegida contra as formas graves de uma doença que já causou a morte de mais de 600 mil brasileiros.

A reabertura do comércio não essencial e das escolas, a volta das atividades culturais e a retomada do turismo, por exemplo, só foram possíveis porque a esmagadora maioria da sociedade ignorou olimpicamente os desvarios do presidente Jair Bolsonaro, que até hoje insiste em vituperar contra a vacinação. No mesmo dia em que o País que deveria governar atingiu a auspiciosa marca de imunizados, Bolsonaro declarou que decidiu não tomar mais a vacina. Na equivocada – e perigosa – visão do presidente, o fato de estar com “a imunização lá em cima”, segundo suas palavras, dispensaria a necessidade de receber a vacina, o que é desmentido pelos médicos.

Para o bem do País, o negacionismo de Bolsonaro ressoa apenas em uma pequena parcela da população. Até o momento, cerca de 150 milhões de brasileiros já receberam ao menos uma dose da vacina contra a covid-19, o que representa 70,29% da população. Isso atesta o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI), referência internacional em políticas públicas de saúde. Por sua vez, o sucesso do PNI se deve não apenas à capacidade de seus profissionais, mas, sobretudo, pela adesão histórica dos brasileiros às vacinas. O discurso antivacina nunca prosperou no Brasil. “Mais uma vez, o País mostra a força de sua cultura vacinal, mesmo em uma campanha que não contou com esforços publicitários (do governo federal)”, disse ao Estado a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, em Washington.

Se, por um lado, o número de vacinados traz alívio e esperança para os próximos tempos, por outro, é de indignar saber que a história da pandemia no Brasil teria sido outra não fosse a desídia de Bolsonaro. Sem a campanha sistemática do presidente contra as vacinas, que incluiu um criminoso atraso na compra dos imunizantes, o Brasil, graças à sua invejável tecnologia de vacinação em massa, seguramente teria voltado bem mais cedo à normalidade e provavelmente teria enterrado menos mortos. Os devaneios de Bolsonaro custaram caro demais ao Brasil.

A “cultura vacinal” da população, como disse a epidemiologista Denise Garrett, aliada à capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) para imunizar os brasileiros, teria levado o País bem antes à desejada imunidade coletiva, caso o governo Bolsonaro não tivesse investido tanto tempo, energia e recursos para propagandear mandingas em vez de trabalhar para trazer as vacinas para o Brasil e estimular o comportamento responsável dos cidadãos.

O vácuo federal só não tragou o País porque houve quem se insurgisse contra a infâmia e o negacionismo. Recorde-se que o governo do Estado de São Paulo viabilizou a Coronavac quando não havia nenhuma vacina disponível, inoculando esperança num país enlutado. Recorde-se também a iniciativa de Nelson Teich, que, em sua brevíssima passagem pelo Ministério da Saúde, firmou acordo para realização de testes clínicos da vacina da AstraZeneca no Brasil. Também foi decisiva a resistência institucional do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, sobretudo do Senado, aos arroubos irresponsáveis de Bolsonaro contra a vacina, as medidas sanitárias e o bom senso.

Por fim, o País chegou até aqui graças à mobilização da sociedade contra os atos e as palavras de um presidente que quer tudo, menos o bem-estar de seus governados.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?