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Urnas podem derrubar mitos (por Mary Zaidan) 

Eleitor vê o horário gratuito, aprova a reeleição, rejeita Lula e Bolsonaro e a nacionalização da disputa

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Montagem com foto dos candidatos à Prefeitura de SP (da esq. para a dir.) Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal - Metrópoles
1 de 1 Montagem com foto dos candidatos à Prefeitura de SP (da esq. para a dir.) Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal - Metrópoles - Foto: Reprodução

A 20 dias de o país ir às urnas para escolher 5.569 prefeitos e 58.442 vereadores, alguns mitos sobre as eleições municipais parecem estar caindo por terra. Na 13ª eleição do século 21, antigas escritas ainda valem, algumas delas no sentido inverso do que muitos previam. A saber:

1. Em plena era da Inteligência Artificial, o velho horário eleitoral de rádio e televisão continua relevante e com fôlego para inverter intenções de votos, conforme registrou a última pesquisa Datafolha na cidade de São Paulo. Nela, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) subiu 5 pontos percentuais depois do início da propaganda dita gratuita, que na verdade é paga pelo conjunto da sociedade em forma de crédito fiscal às emissoras. Candidato de uma coligação com 12 partidos, Nunes tem um latifúndio de 6 minutos e 30 segundos nos 10 minutos dos programas diurno e noturno e direito a 1.913 inserções de até um minuto ao longo da programação. Isso provavelmente explica o salto que deu de 22% para 27% na preferência do eleitorado, ultrapassando, na margem de erro, o candidato do PSOL Guilherme Boulos, com 25%.

2. As redes sociais são fundamentais, mas… Sem tempo no rádio e na televisão, Pablo Marçal (PRTB), que chegou a assustar com uma campanha feita exclusivamente na internet, perdeu fôlego, aparecendo com 19%. As redes são fortes e capazes de abater quem não as domina, mas ainda não foi desta vez que derrubaram de todo o velho (e enfadonho) horário eleitoral obrigatório. Na sexta-feira, um novo recorte do Datafolha apontou que 63% dos eleitores viram ou ouviram as propagandas na televisão ou no rádio.

3. Os critérios para a escolha do eleitor pouco se alteraram ao longo dos anos. Pela pesquisa, 54% afirmam decidir o voto a partir do debate de ideias entre candidatos, outros 42% através de conversas com amigos e parentes, mesmo contingente que fica de olho nas pesquisas eleitorais. As notícias sobre a eleição na televisão formariam o voto de 41%, as redes sociais de 37% (menos do que os 45% da eleição presidencial de 2022). E os líderes religiosos continuam fortes, influenciando 23%.

4. O eleitor parece que se cansou da ladainha do candidato que promete mudanças, e desta vez está privilegiando o terreno conhecido. Em 2024, o número de candidatos à reeleição bateu todos os recordes. São quase três mil em todo o país. Prefeitos de 20 das 26 capitais estaduais são candidatos à reeleição, 10 deles liderando pesquisas em seus estados e outros 6 bem posicionados. Os prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), com 59% das intenções de votos, e o do Recife, João Campos (PSB), com 76%, devem levar já no primeiro turno.

5. Debate de questões nacionais são bons para fazer barulho nas redes sociais, mas parece não conseguir reverberar nas cidades. Nelas, vale mais a coleta do lixo, os ônibus, a moradia, as creches, a saúde. E segurança pública. Embora não seja tema do âmbito municipal, 11 em cada 10 candidatos a prefeito dos municípios de maior porte fazem de conta que têm o condão para diminuir a violência urbana com a ampliação da guarda municipal. De cara lavada, enganam o eleitor, comportamento que também não é novo na política nacional.

6. Padrinhos políticos tidos como de peso também estão em baixa. Muito se falou sobre a força do presidente Lula e do ex Jair Bolsonaro. Mas o que eles têm colhido é uma tremenda rejeição. Em São Paulo, 65% dos eleitores afirmam não votar em um candidato apoiado por Bolsonaro, motivo pelo qual Nunes oscila entre o querer e o não querer muito o apoio do ex, a ponto de ficar escondido no palanque do 7 de Setembro, na Avenida Paulista. Não deu um pio e nem mesmo saiu na foto. Marçal, que é “amado” pelos bolsonaristas por chutar todos os baldes, também não faz questão de ter o ex ao seu lado, mas para não desagradar à galera troca beijos e tapas com o capitão. Boulos, candidato de Lula, quer o presidente ao seu lado e deve incluí-lo em pelo menos mais três agendas até as eleições. Mas o risco é grande: 44% dos eleitores dizem não votar em um candidato apoiado por Lula. Em Belo Horizonte, os candidatos de Bolsonaro, Bruno Engler (PL), com 13%, e de Lula, o petista Rogério Correia, com 8%, não fazem cócegas no líder Mauro Tramonte (Republicanos), com 29%.

Diferença mesmo fez o apresentador José Luiz Datena, desta vez no PSDB. Depois de desistir de ser candidato por cinco vezes – três vezes ao Senado, duas à Prefeitura, além de ter cogitado disputar a Presidência da República em 2022 -,  era quase certo que ele abandonaria a disputa. Não aconteceu. Pelo menos até o momento em que escrevo esse artigo. De acordo com o calendário eleitoral, o prazo limite para o partido substituí-lo vence nesta segunda-feira. A ver.

Outras mesmices serão vistas no pós-pleito, como contestação de pesquisas. Mas uma coisa é certa: nos livramos da pregação contra a idoneidade das urnas e do processo eleitoral. Tudo será como sempre foi antes de Bolsonaro. Uma bem-vinda normalidade.

Mary Zaidan é jornalista 

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