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Uma rota inovadora para São Paulo (por Marcos Magalhães)

A escolha de um policial militar tem a cara de Bolsonaro. E pode mesmo ser capaz de contagiar a militância de extrema-direita,

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coronel Ricardo Mello, presidente Ceagesp
1 de 1 coronel Ricardo Mello, presidente Ceagesp - Foto: Divulgação/PMSP

Imagine que o apagado Ricardo Nunes se reeleja prefeito de São Paulo. E que, por algum desses motivos imprevisíveis, precise deixar o cargo. Passa então a administrar a maior cidade brasileira o coronel Melo Araújo, da Polícia Militar. Quem? Pois é.

A maior credencial de Araújo é a sua ligação com Jair Bolsonaro, cujas fotos aparecem com frequência em suas redes sociais. A segunda credencial tem destaque no currículo: foi comandante da Rota, a mais violenta tropa da polícia paulista.

É isso o que quer a direita? Parece que sim. A indicação de Araújo chegou ao prefeito pelas mãos de Tarcísio de Freitas, que, por sua vez, elegeu-se para o segundo cargo mais importante do país depois de receber a benção do ex-presidente da República.

A escolha de um policial militar tem a cara de Bolsonaro. E pode mesmo ser capaz de contagiar a militância de extrema-direita, que andava reticente em relação à campanha do atual prefeito pela reeleição.

Pois Nunes, que herdou ao cargo após a morte precoce do então prefeito social-democrata Bruno Covas, passa a conviver de perto com um vice bolsonarista e com um governador já apontado como provável nova estrela da direita brasileira.

Pode-se dizer que a política é assim mesmo, que são necessárias alianças para ganhar eleições. E que o eleitorado de São Paulo, mais conservador, receberia bem esse aceno generoso aos admiradores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na verdade, as conversas sobre as eleições municipais, até agora, estão limitadas a isso mesmo: quem segue com quem, que partidos poderão liderar as coalizões mais competitivas nas maiores capitais do país.

Fica para depois, ou deixa-se mesmo para lá, o debate sobre as cidades que os potenciais prefeitos se dispõem a administrar. Segurança, como se sabe, é uma tarefa delegada principalmente aos governos estaduais. A chegada do nome de um comandante da Rota às urnas eletrônicas, porém, indica o tom a ser adotado em campanha pela direita.

As guardas municipais têm importante papel na manutenção da ordem pública. Mas as tarefas de um prefeito, especialmente em grandes centros urbanos, vão bem além: do transporte público à oferta de serviços de qualidade em educação e saúde e à projeção da cidade no céu das maiores metrópoles mundiais.

O Brasil tem duas cidades que se podem chamar de globais: Rio de Janeiro e São Paulo. Se o Rio recebe grandes eventos como as Olimpíadas e a Cúpula do G-20, a capital paulista desponta como protagonista na economia e na produção de arte e conhecimento.

O mundo tece aos poucos uma rede de cidades criativas e inteligentes. Lugares onde se sintam em casa empreendedores, artistas, cientistas e inovadores de todo o mundo. Quem consegue atrair esses talentos sai na frente na disputa por maior projeção global.

Esse movimento foi descrito em diversos livros pelo planejador urbano norte-americano Richard Florida. Em sua obra mais conhecida, A Ascensão da Classe Criativa, ele descreve como a atração de talentos e a tolerância política, sexual e religiosa tem ajudado grandes centros urbanos a florescer.

Pois São Paulo, com toda a sua diversidade, tem tudo para estender suas teias nessa grande rede de cidades criativas. E tornar-se, provavelmente, o maior elo dessa rede na ainda esquecida e subestimada América do Sul.

Para isso, precisa contar com lideranças que apostem na abertura ao mundo, na conexão com redes criativas das artes e das ciências, na tolerância, na democracia e na redução das desigualdades. Uma rota inovadora para São Paulo.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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