Um feliz 2023 (por João Bosco Rabello)
O Brasil chega doente a 2022. O ano de um semestre, encurtado pelas eleições e Copa do Mundo
atualizado
Compartilhar notícia
E 2021, o ano que parecia não acabar, passou. O prenúncio que deixa não é conciliável com os votos protocolares de feliz ano novo. O melhor desejo é o de que cada um consiga cultivar em si o propósito de sublimar os revezes buscando a renovação no espírito, se munindo de persistência e determinação para quitar os restos a pagar.
A expressão não é uma apropriação casual da terminologia orçamentária nacional, pois o principal combate será nesse campo em que os recursos foram empregados sem qualquer vínculo com as necessidades do país (des) orientados por uma gestão ideológica e eleitoreira, de complexa reversão.
O restos a pagar tornou-se mecanismo de gestão e produziu um orçamento paralelo que impôs o chamado teto de gastos, sepultado por Arthur Lira e entorno.
O país está aos cacos em todos os planos – político, econômico, sanitário, social e moral. A pandemia teve no governo federal um cúmplice infiltrado no organismo social a boicotar os esforços pela sua regressão. Ao inverso da cronologia humana o método cumpriu uma escala do idoso ao infantil, estágio em que se desenvolve hoje a batalha entre a imunização e o contágio estimulado.
A União, assim definida juridicamente, é uma abstração só percebida como coletora e distribuidora de impostos. Não tem CEP, lá o carteiro não passa. Ninguém mora na União, mas em ruas, cidades, sejam capitais ou municípios, onde o cidadão convive e se reconhece no ambiente social. E onde cumpre as leis que regem a vida em sociedade.
Mas a União, em ironia com o sinônimo solidário que carrega o vocábulo, fez da rede que contorna e tece as relações entre indivíduos, um só fio desencapado. Não foi elo, mas separatista, elegendo Estados e municípios como adversários.
Em cada esquina, restaurante, bar padaria ou quitanda, a milícia antivacina, máscara e prudência produz conflitos – e até mortes como uma variante a ampliar as estatísticas macabras da Covid.
O Brasil chega doente a 2022. O ano de um semestre, encurtado pelas eleições e Copa do Mundo. O Congresso Nacional, com lideranças pífias, confirmou a máxima de Ulysses Guimarães, ditadas aos que o procuravam para se queixar do Parlamento. “Você está pessimista porque ainda não viu o próximo”.
O Executivo nada produziu no plano das reformas chamadas estruturais, mas contribuiu muito para piorar o varejo. O ministério da Saúde fez de seu título uma ironia histórica.
O da Economia passou o mandato mudando contas de padaria. Sua única previsão correta foi a da morte de milhares de pequenas empresas. Encerrado o ano mandou o médico com os remédios ao velório para a missa encomendada.
O Judiciário foi o muro de contenção de um roteiro desgovernado e indiferente à Constituição. Foi tão importante que seus próprios males ficaram em segundo plano.
As eleições vêm aí e na hipótese otimista de que o calvário vivido oriente o voto cidadão, mais adequado será desejar ao país um Feliz 2023, pois o ano que começa hoje será ainda de muita luta e espírito de sobrevivência.
João Bosco Rabello escreve no Capital Político. Ele é jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública