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Túneis de Gaza “são algo que nem conseguimos imaginar”

São um “labirinto”, uma “teia de aranha”, ou um metrô por onde podem passar homens, artilharia, foguetes ou veículos como motos

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Mostafa Alkharouf/Anadolu via Getty Images
Soldados israelenses patrulham perto da fronteira de Gaza enquanto o confronto entre o exército israelense e as facções palestinas continua em Nir Oz, Israel, em 19 de outubro de 2023
1 de 1 Soldados israelenses patrulham perto da fronteira de Gaza enquanto o confronto entre o exército israelense e as facções palestinas continua em Nir Oz, Israel, em 19 de outubro de 2023 - Foto: Mostafa Alkharouf/Anadolu via Getty Images

Por Maria João Guimarães

 

A “Gaza subterrânea”, construída pelo Hamas ao longo de décadas, é uma rede de túneis que se estende por baixo de todo o território e que permite não só a passagem de combatentes do movimento, mas de muito mais: “É muito densa, é um sistema enorme de túneis que permite ao Hamas transportar terroristas e reféns, mas também motas, artilharia, e rockets, e tudo o que possam imaginar”, descreveu Avi Issacharoff, jornalista do diário israelita Haaretz e co-criador da série Fauda, e que até 2007, quando o Hamas tomou o controlo do território, visitou muitas vezes o território, conta o Times of Israel.

O Hamas declarou, em 2021, que a sua rede de túneis cobria uma extensão de 500 quilómetros, mas especialistas israelitas têm dito que este número será exagerado. Isso não diminui a sua sofisticação; há locais que estão reforçados por cimento, e há estimativas de que em alguns pontos a profundidade pode chegar a 50 metros – o equivalente a um edifício de 20 andares ou uma torre de controlo de aeroporto, segundo o USA Today.

Os túneis têm eletricidade, água, comida, combustível, armas, comunicação, e especialistas militares israelitas dizem que os combatentes – fontes do grupo citadas pela Reuters falam em 40 mil – podem sobreviver vários meses sem ter de sair dos túneis. Forças israelitas referem-se aos túneis como “o metrô de Gaza”, analistas usam mais vezes a expressão “labirinto”. Uma das reféns libertadas pelo Hamas descreveu ter sido levada para uma “teia de aranha de túneis” e de ficar no subsolo durante dias numa espécie de divisão com colchões, claramente preparada para ter pessoas a viver lá.

“Quase não vemos terroristas”, dizia um soldado a participar na incursão terrestre em Gaza ao jornalista do Haaretz Anshel Pfeffer, que estava acompanhado com uma unidade israelita na Faixa de Gaza. “Estão nos túneis e só saem para emboscadas. Encontramos algumas saídas de túneis, e, quando isso acontece, chamamos a Yahalom [unidade de elite de demolições e engenharia] e eles fazem-na explodir.”

Isto contradiz, no entanto, a ideia de que esta força poderá tentar obter mais informação sobre os túneis, em vez de os destruir, como comentava na Foreign Policy Joe Buccino, militar norte-americano que já esteve deslocado no Médio Oriente. “As próximas semanas vão provavelmente focar-se em cerco e atrito”, escreve na Foreign Policy. Enquanto isso, decorrerá a tentativa de recolha de informações, prevê. Uma análise de Amos Harel no Haaretz parece confirmar esta ideia. “As IDF [Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês] estão a perceber aos poucos que tudo o que os serviços secretos sabiam sobre os túneis parece não chegar perto da dimensão do projeto” dos mesmos.

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O segredo é parte importante dessa rede, embora haja estimativas de onde se encontram alguns. Os trabalhadores eram levados para os locais de construção vendados para não poderem perceber onde estavam. Daphné Richemond-Barak, especialista em guerra subterrânea na Universidade Reichman em Israel, sublinha que não há sistemas para detectar túneis facilmente. “Por isso têm sido usados desde tempos imemoriais, porque não há modo de impedir que sejam construídos.” O objectivo de destruir toda a rede é, na opinião de Daphné Richemond-Barak, impossível.

E as condições fazem com que as IDF percam a maior parte das vantagens que as forças israelitas têm em termos de informação ou equipamento, comentou em declarações à BBC. A construção dos túneis, sublinham as IDF, também é feita à custa da população civil, já que, acusam, o Hamas canaliza quantias da ajuda internacional a Gaza e usa o cimento destinado à reconstrução de casas destruídas em ataques para os túneis, lembra a BBC. O cimento está entre muitos materiais de construção cuja entrada em Gaza não é permitida por Israel.

(…)

Há meios que o Exército israelita poderá usar antes de ter forças a entrar nos túneis, como robots e outros que terão sido desenvolvidos ao logo de anos num centro interdisciplinar conhecido apenas como “o laboratório”, onde, segundo o USA Today, estão, desde 2014, a ser desenvolvidos, por cientistas de áreas diferentes, meios para tentar encontrar localizações dos túneis e maneiras de chegar a eles sem que soldados tenham de entrar, sujeitando-se a emboscadas. Outro modo de tentar evitar zonas armadilhadas, que estarão muitas vezes nas entradas, será escavar uma nova entrada de acesso a um túnel, mas para isso seria necessário conhecer a localização de uma parte do percurso do túnel.

O responsável por Estudos de Guerra Urbana no Instituto de Guerra Moderna na academia de West Point John Spencer conta que há mais meios para atingir túneis, lembrando que o Egito inundou muitos túneis do Hamas com água de esgotos; já Israel usou cimento fresco para selar túneis do Hezbollah no Norte. De qualquer modo, não é possível evitar a entrada na rede, ou redes, de túneis, onde haverá explosivos que podem ser detonados de modo automático ou remoto, e onde estarão ainda os mais de 200 reféns nas mãos do Hamas, que podem ser usados como escudos humanos.

“Quem levou a cabo os ataques de 7 de outubro com aquele nível de especialização, precisão e intensidade ter-se-á preparado para uma batalha de longo prazo”, disse Adeeb Ziadeh, especialista em questões internacionais da Universidade do Qatar.

(Extratos de artigo publicado pelo jornal PÚBLICO)

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