metropoles.com

Tripla insensatez (por Cristovam Buarque)

Dirigentes e opositores promovem tragédia histórica

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Hugo Barreto / Metrópoles
Câmara plenário da Câmara dos Deputados - Metrópoles
1 de 1 Câmara plenário da Câmara dos Deputados - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto / Metrópoles

Há livros dedicados a analisar a estupidez política de líderes do passado. Não conheço livro que analise a insensatez múltipla de dirigentes e opositores, promovendo tragédia histórica. O Brasil de 2022 será um tema de análise da tripla insensatez na política.

De um lado, o Presidente com a estupidez de anunciar com meses de antecedência que não respeitará o resultado das urnas. Insensato aos fatos, porque para ter sucesso, o golpe exige surpresa; e porque, se tiver êxito, é muito provavelmente que seja descartado, uma vez que não liderará as Forças Armadas, depois que rasgar 56 milhões de votos e a Constituição que lhe dá legitimidade para compensar sua total falta de liderança. Além disto, basta ler história para saber que nenhuma ruptura do pacto constitucional provoca coesão e rumo duradouro para o país.

Ao lado, a insanidade dos comandantes militares, que certamente conhecem mais história do que o capitão que expulsaram e os eleitores fizeram presidente. Sabem o risco que o país sofrerá se a Constituição for rasgada, se um presidente despreparado for imposto, ou se este for destituído, e no lugar for imposto um comandante militar sem votos. Mesmo se o golpe for vitorioso e ficar 21 anos, graças à tortura e ditadura, não será benéfico para o país nem para as Forças Armadas.

Os generais comandantes parecem não ter aprendido a importância da surpresa na execução de uma estratégia. Já manifestam que não respeitarão o resultado das eleições se as urnas não estiverem de acordo com o que eles querem. Desmoralizam a democracia ao tentar tutelar o processo eleitoral, e com isto desmoralizam as Forças Armadas por se transformarem em milícias politiqueiras. Aceitaram estas urnas em dez eleições anteriores, agora, insensatamente, avisam que usarão este argumento para recusar o resultado das eleições se não for o que eles desejam. É uma estupidez, mas estão praticando sem respeito aos juramentos, à história nem aos julgamentos que receberão no futuro.

Demonstram estupidez ao deixarem, óbvio a qualquer inteligência, como será o golpe, com roteiro que consiste em: compactuar com um fundo secreto para comprar votos com dinheiro público, se isto não der o resultado que esperam, usam o estado de emergência já aprovado pelos parlamentares, denunciam que o resultado não é confiável, desconectam a energia durante a noite da apuração, milícias impedem a circulação de transporte, especialmente no Nordeste e outras áreas reconhecidamente a favor de outro candidato, usam as denúncias feitas contra o candidato Lula por personalidades progressistas, convocam o Congresso, dificultam a presença de parlamentares opositores, deslegitimam as votações e convocam novas para daqui a dois anos, prorrogam os mandatos de todos os atuais dirigentes, muitos dos quais perderam a eleição; se não for suficiente a compra dos parlamentares por dentro, cercam o Congresso e o STF, e as casas onde moram os líderes da oposição “para protege-los”: medida aceita sobretudo se antes ocorrerem atos de violência, como o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu.

Sabendo disto, as oposições se comportam de forma igualmente insensata: sabem o que pode acontecer, mas não sabem o que fazer para barrar o golpe. Não se unem, não fazem um manifesto conjunto em defesa da democracia, se acusam mutuamente, detonam pontes que seriam necessárias no segundo turno, não elaboram um programa comum tal como: fim da reeleição, combate à inflação, medidas para gerar emprego, defesa da Amazônia, recuperação do prestígio internacional, enfrentar as sequelas do covid, fim do sigilo de processos por corrupção, regras que vacinem o governo contra corruptos.

A história mostra insensatez de muitos governantes. O Brasil mostra insensatez tripla: das Forças Armadas, do governante e dos líderes da oposição.

Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?