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Pois Theo discursou no aniversário da avó. Sem tropeçar nas palavras, comentou o que acabara de ouvir. “Você e seus amigos não viverão toda a tristeza desses tempos ruins, vovó, seus netos é que vão encarar anos e anos de tudo que pode vir por aí”.
Na festa de seus 80 anos, Suely Caldas agradeceu a presença dos amigos fazendo breve retrospecto de sua vida, com pinceladas fortes nos tempos atuais.
Lembrou da prisão durante a ditadura militar, do nascimento dos filhos, da bem-sucedida carreira de jornalista, e registrou que a tragédia nazista assombra novamente a humanidade.
“Estamos vivendo tempos intimidatórios. A extrema direita nos ameaça como se não tivéssemos vivido a Segunda Guerra, a bomba atômica, o holocausto”.
Theo pegou daí. Não tem dúvidas do que seria melhor para a humanidade. Fala como gente grande. Inteligente, discurso solto. Theo é o xodó de toda a família, dos tios, dos primos. Nasceu com deficiência visual e sagacidade acima do normal.
Apaixonado por jornalismo e futebol, visitou o estúdio do JN, sentou na cadeira de Bonner, foi muitas vezes ao estádio assistir seu Flamengo, adora música, e… esporte radical. Aos 12 anos tem na avó Suely sua melhor companheira. Profunda admiração. A recíproca é verdadeira. Dançou e cantou os hits dos anos 70, de mãos dadas com a aniversariante, com o avô, com os primos mais velhos.
Theo emociona. Nos seus 12 aninhos “bem vividos”, esbanja alegria. A festa da avó não teria sido tão boa se Theo não estivesse presente. Bom demais, Theo.
IBGE subiu o morro
Abaixo os “aglomerados subnormais”. A definição não existe mais. São “Favelas e Comunidades Urbanas”.
Pela primeira vez, o aprimoramento das pesquisas possibilitou retrato nítido das nossas periferias. Diz o IBGE: 8,1% da população brasileira – ou 16 milhões e 390 mil pessoas – moram em favelas. O Censo que começou em 2022 e foi divulgado na semana passada, encontrou 12.348 Favelas e Comunidades Urbanas.
Em 2010, num levantamento ainda incipiente, eram 6.329 Favelas, onde residiam 11.425.644 pessoas, ou 6,0% da população do país naquele ano.
Os dados não surpreendem. Nas favelas, mostra o IBGE, cresce o número de templos, da pregação sem fé e sem regras. Religiões até então desconhecidas. As favelas, diz o Censo, tem 6,5 igrejas para cada escola ali instalada, concentrando 8,8% dos templos de religiões variadas de todo o País.
Não é pouco para um pedaço de Brasil ainda subletrado.
Mirian Guaraciaba é jornalista