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Temer não foi pária (por Cristovam Buarque)

A elite política e intelectual portuguesa acompanha o Brasil e sabe a diferença entre os dois anos de Temer e os quatro do Bolsonaro

atualizado

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Michel Temer aguarda Bolsonaro no alto da rampa do palacio do planalto - Posse do presidente Jair Bolsonaro
1 de 1 Michel Temer aguarda Bolsonaro no alto da rampa do palacio do planalto - Posse do presidente Jair Bolsonaro - Foto: Michael Melo/Metrópoles

As falas do Presidente Lula em Pequim e em Abu Dhabi provocaram descontentamento entre os países que defendem a Ucrânia contra a invasão russa. O próprio presidente reconheceu o erro e reduziu o impacto negativo de suas declarações ao dizer depois que a Rússia fez uma invasão. Também repercutiu mal, embora de forma restrita apenas a Portugal, a declaração de que o Brasil ficou pária durante seis anos, misturando Temer e Bolsonaro, José Serra e Aloysio Nunes com Ernesto Araújo.

A elite política e intelectual portuguesa acompanha o Brasil e sabe a diferença entre os dois anos de Temer e os quatro do Bolsonaro. Temer fez uma visita de Estado a Portugal e recebeu o presidente deste país em uma grande visita oficial. Todos sabem que seus dois ministros, Serra e Aloysio, fizeram uma política externa com presença no mundo. Não foi uma declaração sintonizada com a realidade da história recente de nossa política externa.

Do ponto de vista da luta contra o autoritarismo, não tem lógica tratar Bolsonaro e seus ministros como iguais a Temer e seus ministros. Esta declaração não ajuda quando olhamos para 2026, sabendo que o bolsonarismo ainda vai estar ativo e precisaremos reeleger Lula, o que requer apoio de muitos dos que estiveram no governo Temer. Muito provavelmente os ministros do Temer votaram no Lula desde o primeiro turno, como Aloysio Nunes, provavelmente todos votaram no turno final.

A fala do Presidente Lula repercute mal em Portugal, onde Temer é respeitado como acadêmico e promoveu boas relações com o país, e não ajuda a consolidar a imagem do Lula Estadista Planetário, preocupado com os grandes problemas do mundo. Era momento dele de dar uma mensagem clara sobre a desumanidade como a Europa tratamento aos imigrantes. O presidente do Brasil perdeu a chance de falar para o mundo, dar uma lição de como a Europa deve tratar do problema da migração em massa. Sugerir formas para enfrentar com humanismo a tragédia dos afogados no caminho, barrados na fronteira ou excluídos dentro dos países onde penetraram.

Perdeu esta chance por falar no Exterior mirando seus aliados internos, como se fazia nos quatro anos anteriores.  Ainda mais ajudando Bolsonaro ao identifica-lo com Temer.

Mas talvez o maior problema desta fala do Lula não esteja nele, mas no fato de que neste seu terceiro mandato ele parece não ter pessoas com autoridade para criticá-lo, e sugerir caminhos e falas diferentes do que ele projeta e fala. Sem críticos que alertem, nenhum governante é bem sucedido, e nós precisamos do sucesso de Lula, por isto precisamos que ele tenha aliados que não fiquem no assustado silêncio bajulador, prefiram alertar ao presidente das consequências de suas falas. Especialmente no Itamaraty.

 

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador 

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