Tarcísio de Freitas vai manter “morde e assopra” com o bolsonarismo
Futuro governador irá descobrir seu caminho à direita
atualizado
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Tarcísio de Freitas começa a mostrar como comandará São Paulo a partir do ano que vem. Escolheu até o momento um secretariado técnico, ainda que a Segurança fique nas mãos de um aliado próximo à família miliciana. Aproximou-se de Kassab, negou ser bolsonarista raiz e recuou. Prometeu privatizações.
É o mote da direita, sobretudo em São Paulo: eficiência e responsabilidade administrativa, liberalismo econômico e violência policial contra os mais pobres. Maluf tinha essas tonalidades, só que o liberalismo não estava na moda. Os tucanos tinham essa assinatura, e funcionou por quase três décadas. É a vez de Tarcísio repetir o mesmo teatro.
Mas para isso, ele percebeu que é preciso afastar-se do radicalismo da extrema-direita. Quem sabe cravar seu nome no campo da direita, ocupando o lugar perdido pelo PSDB. Uma direita democrática, que aceita o jogo.
Tarcísio enviou muitos sinais. Em entrevista à CNN ele afirmou: “nunca fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas principalmente do governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural”. Adeus mamadeira de piroca?
Como ainda é cedo, porém, para negar o bolsonarismo três vezes, o futuro governador recuou. Em post nas redes sociais disse ser um privilégio conhecer o coração do presidente da República. “Se estou hoje aqui, é porque Jair Bolsonaro confiou em mim. Ele tem minha eterna admiração e gratidão”. Comovente. Essa gratidão tem hora para acabar e Bolsonaro faria o mesmo, como fez, para manter seu poder.
Sobre a formação de seu secretariado, colocou Gilberto Kassab na Secretaria de Governo, dando-lhe protagonismo. Disse que Kassab será seu “para-raios político”. Sabe o que faz. O chefão do PSD tem bom trânsito à esquerda e à direita, e claro não lhe faltam conversas com Lula e outros petistas.
Entre muitos nomes técnicos, dois personagens podem ser seu calcanhar de Aquiles. Já existe um conflito com o bolsonarista raiz e deputado federal Capitão Derrite (PL) nomeado para a Secretaria da Segurança de São Paulo. Tarcísio recuou da promessa de campanha de acabar com as câmeras nos uniformes dos policiais. Derrite continua a favor. Mas os dados não mentem. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, a ação de PMs com câmeras causa 50% menos mortes e 64% menos lesões. Uma polícia ainda mais violenta e racista pode render péssimas manchetes para o governo.
Outro nome contestado é de Renato Feder, que vai assumir a Educação. Secretário de Educação do Paraná, foi quem mais fez escolas cívico-militares no país e lançou edital para privatizar gestão de escolas públicas. Nunca vi liberalismo e militares rimarem com escola pública. Com as promessas de privatização da Sabesp e da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), Tarcísio toca a música preferida da Faria Lima. Quanto menos Estado, mais lucro para os mesmos.
O futuro governador deve passar os próximos meses em um morde-assopra com bolsonarismo. Não poderá ser chamado de traidor, tampouco de bolsonarista. Irá acertar o rumo até descobrir seu caminho à direita.