“Tanto faz”: frase de ACM Neto embala PT na Bahia (Vitor Hugo Soares)
A campanha eleitoral mudou na Bahia
atualizado
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“Para mim tanto faz”: ao pronunciar a frase na entrevista a uma emissora de rádio de Salvador no começo da campanha, o ex-prefeito ACM Neto, candidato do União Brasil a governador da Bahia – com 49% das intenções de voto contra 28% do petista Jerônimo Rodrigues em segunda lugar, na pesquisa Datafolha desta semana – imaginava definir seu perfil de político e gestor independente no plano nacional, um “sem padrinho” na disputa presidencial. Pontuava a diferença em relação aos dois principais adversários na corrida estadual: Rodrigues (PT), militante “do time de Lula” (como deixa claro no horário político na TV e rádio); ou João Roma (PL), espécie de ponta de lança do presidente Jair Bolsonaro na briga pelo Palácio de Ondina.
Mas tudo indica que Neto não calculou bem os prós e contras de sua polêmica fala. Seja como for, o “tanto faz” levantou muita “poeira”, a ponto de transformar- se no mote principal de uma das mais renhidas e explosivas disputas para governos estaduais no País, neste primeiro turno. Com carga explosiva capaz de mexer e influir em grau ainda impossível de avaliar, tanto no confronto estadual na mais recente pesquisa Datafolha, Jerônimo cresceu 12 pontos percentuais e Neto caiu 6), quanto na campanha presidencial no maior colégio eleitoral do Nordeste e quarto do País.
O candidato da UB – que as pesquisas indicavam, no início, quase como favas contadas para definir o jogo eleitoral já no primeiro tempo, vê o jogo endurecer , e muito nesta reta de chegada às urnas do primeiro turno. Sua frase foi apropriada como peça política, de princípios e marqueteira, do PT e de seus maiorais – a começar pelo governador Rui Costa, os senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD), candidato à reeleição, e o próprio ex-presidente Lula (todos bons puxadores de votos, conforme demonstram os mais recentes levantamentos . Todos juntos na campanha do ex-secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, na base do “Sem essa de tanto faz”. Diga-se, a bem dos fatos: a campanha petista, que arrastava-se mambembe, ganhou novo impulso quando Neto ofereceu o lema para o PT baiano. Além de dar amplitude nacional a uma disputa que trafegava sem sal e sem pimenta, nada alentadora para os donos do poder local há quase 16 anos, a ponto de levantar suspeitas de um acordo de cúpulas para favorecer a campanha estadual de ACM Neto, e a presidencial de Lula.
Seja como for, a campanha mudou na Bahia. ACM Neto, que tocava suas falas e propaganda política na ofensiva, frente ao petista Rodrigues, enquanto praticamente ignorava o ex-ministro da Cidadania, o bolsonarista João Roma -, passou à defensiva, quando precisou dar explicações sobre o seu polêmico “tanto faz”. Mudou até a peça de maior apelo popular do marketing, que apresenta o melhor prefeito das capitais brasileiras, em seus dois mandatos em Salvador, e o adversário petista apresentado como o pior secretário estadual de Educação do País, demitido pelo governador Rui Costa, quando a Bahia desceu ao último lugar na avaliação do IDEB. A peça foi tirada do ar em razão de ação do PT acolhida pelo TRE, empurrando a campanha do ex-prefeito para as cordas, &nb sp;no rádio e na TV.
“E segue o carro para a Lapinha”, como dizem os soteropolitanos. com o “tanto faz” de ACM, transformada na frase do ano na Bahia. para o bem e para o mal, nesta reta de chegada. O resto a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mails: vitors.h@uol.com.br