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Somos todos gaúchos (por Gustavo Krause)

O cidadão por mais, sarado, saudável, e forte que seja não resiste ao choque das notícias que chegam pelas mídias tradicionais

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O esforço é grande para manter a saúde mental frente ao ritmo e às exigências do mundo contemporâneo. As prescrições dos doutores e, muitas vezes, do charlatanismo da autoajuda, vão dos simples exercícios respiratórios ao mergulho salvador nas profundezas da meditação. Um divã terapêutico auxilia muito. Sem cair na armadilha das dietas mágicas e doentias, é aconselhável manter uma alimentação saudável e suficiente para não ser repreendido pelos números da balança e das taxas dos exames laboratoriais.

De outra parte, é fundamental se mexer, caminhar, correr e, quem sabe maratonar, que servem para o equilíbrio mente/corpo sem exageros que emitam sinais de inevitáveis, porém, precoces artroses comprometedoras da movimentação do sofrido esqueleto.

Pois bem, o cidadão por mais, sarado, saudável, firme e forte que seja não resiste ao choque das notícias que chegam pelas mídias tradicionais ou pelas redes sociais da era da internet. Adoece!

Narrativas e imagens se associam e exibem um filme de terror que não é fruto da imaginação de premiado produtor. É o mundo real e a dinâmica da vida como ela é. O realismo do noticiário é tóxico. Não podia ser diferente. Nele, porém, é importante reconhecer o papel dos profissionais da imprensa e de todos que, por dever, coragem e compaixão, se empenham na missão de salvar vidas e amparar pessoas e animais.

No plano internacional, reina o terror sobre o ideal da paz entre os povos. O insuportável clima de beligerância aponta para os riscos de um confronto global. Não é alarmismo. Basta olhar para as lideranças atuais que têm nas mãos o poder da destruição. Eles salivam veneno; cospem balas e empunham mísseis devastadores. Revolvem e atualizam ódios ancestrais, contratando, desde já, um futuro de hostilidades. A palavra de ordem é aniquilar os inimigos, soldados ou não, o que ratifica a sabedoria da senhora Barbara Tuchman, quando escreveu o clássico intitulado a Marcha da Insensatez.

Por aqui, a alma brasileira está seriamente afetada por uma tristeza profunda: a tragédia que vitimou o estado do Rio Grande Sul e está doendo em nós. Desastre enorme e duradouro. Veio para ficar como marca de um tormento. Ironicamente, a gravidade dos fatos é um divisor de águas cujo espectro acompanhará, por um longo tempo, a sociedade gaúcha e uma nação inteira.

Para enfrentar este cruel destino, o remédio que salva é a solidariedade como sentimento fundador de uma crença inabalável: “Somos todos Gaúchos”. Na diversidade do Oiapoque ao Chuí.

De fato, o que engrandece e ilumina episódio é o valor do agir bem que confere o distintivo de virtude à solidariedade no que tem de sólido, etimologicamente e que, na prática, junta grãos de areias, formando a estrutura de um seixo.

Neste sentido, a solidariedade emerge, ensina André Comte-Sponville “no cruzamento da hominização (como fato biológico) e da humanização (como exigência cultural): nossa maneira de ser e agir humanamente” (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes – São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1995).

A bem da verdade, é o que vem ocorrendo na mobilização das instituições públicas em todas as esferas na nossa Federação, das organizações não-governamentais, empresas, e o mais emocionante, o cidadão conjunta ou isoladamente, dá o que pode movido por uma dedicação interior que é a de se somar ao esforço comum de salvar, abrigar, cuidar e não se dispersar na gigantesca tarefa que é reconstruir o Estado do Rio Grande do Sul.

Há razões para acreditar. O exemplo veio da solidariedade humanizada como exigência cultural da imagem símbolo no resgate da doçura de “Caramelo” que, imponente e elegante, voltará a cavalgar no Pampa.

A luta será incessante. A crise é severa, aflitiva e a ameaça, permanente. O sofrimento dói, mas fortalece. É, também, fonte de inspiração para enfrentar as urgências e superar o desafio estratégico de restaurar a grandeza da “pátria gaúcha”, conquistada pelo destemor e dignidade de sua gente.

 

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda 

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