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Só depois do carnaval (por André Gustavo Stumpf)

“Bolsonaro e Flávio se acostumaram ao dinheiro público”. A definição de Jefferson explica a luta para permanecer no poder

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Flávio e Jair Bolsonaro
1 de 1 Flávio e Jair Bolsonaro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O momento político brasileiro é muito estranho, delicado e difícil de compreender. Algum estrangeiro recém-chegado ao país ficará completamente desorientado na tentativa de entender o que se passa no reino tupiniquim.

O ministro Paulo Guedes, que controla os dinheiros, se referiu ao seu colega, titular da pasta de Ciência e Tecnologia, como burro, astronauta que está com o pensamento no espaço, além de ser péssimo gestor.

Não são palavras gentis, nem protocolares, revelam apenas que o ex-poderoso está muito estressado. Sabe que a terra lhe fugiu aos pés. Está pendurado em promessas vazias do presidente Bolsonaro.

No mês de setembro o governo federal conseguiu fazer pela primeira vez, desde 2012, um superávit primário na ordem de R$ 303 milhões. Número interessante, consequência do superávit de 15,3 bilhões do Tesouro Nacional, rombo de 14,8 bilhões do déficit da Previdência e resultado negativo do Banco Central no valor de R$ 169 milhões.

É especial porque dificilmente vai se repetir até o final do ano. O presidente, no entanto, não fala disto. Prefere criar tumulto quando afirma que vacinados contra a covid podem ser vítimas da Aids. O assunto reverberou em todo mundo. Até Nicolás Maduro, homem forte na Venezuela, chamou o brasileiro de imbecil.

Logo ele que admite conversar com animais. Já viu um pássaro que era a reencarnação de Chávez. Recentemente manteve longo diálogo com um jegue, cena televisionada para todo o país. É o realismo mágico latino-americano.

A promessa de administração liberal, feita com toda ênfase no início do governo, virou fumaça e desapareceu. Os auxiliares de Guedes comprometidos com aquela política pediram demissão diante da evidência de que nada iria avançar nesta área. Ao contrário, o governo criou a NAV Brasil, estatal, destinada a controlar o espaço aéreo brasileiro. Já recebeu R$ 25 milhões para se instalar e começar a funcionar. E abriu o quadro de 1.698 servidores em todo o país.

A Infraero não desapareceu. Ela ainda administra alguns aeroportos que serão leiloados nos próximos meses, entre eles Congonhas e Santos Dumont. A empresa continua a viver tanto quanto a Telebrás, que se supunha ter sido privatizada tempos atrás. Mas, ela está viva.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral agiram contra as fake news. Tem gente presa por ter operado neste meio obscuro, sigiloso, que só age à sorrelfa e no dizer do já mencionado Paulo Guedes são as criaturas do pântano.

Um deputado estadual do Paraná, Fernando Francischini (PSL), ganhou seus 15 minutos de fama. Durante a última campanha ele afirmou ter provas de que as urnas eleitorais foram fraudadas, apesar de Bolsonaro ter vencido e recebido 57 milhões de votos.

Perdeu o mandato e os direitos políticos por oito anos. E o processo sobre notícias falsas ocorridas na campanha da chapa Bolsonaro/Mourão terminou no arquivo. Mas o caso do deputado paranaense se transformou em punição exemplar. Como disse o ministro Alexandre de Moraes, quem operar com fake news vai ser processado e preso.

Neste momento existem pelo menos nove candidatos à Presidência da República. São eles: Lula, Bolsonaro, Sérgio Moro, Ciro Gomes, João Doria ou Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta, José Luiz Datena, Alessandro Vieira, Rodrigo Pacheco. É nesta ordem que os institutos de pesquisa os colocam na preferência do eleitor.

Não há ainda clareza sobre o quadro eleitoral. As federações de partidos não se materializaram. Elas vão influir nas eleições para deputados federais. Será um dado importante na formação dos palanques nos estados. Esta novidade constitui elemento fundamental para organização das candidaturas.

Tudo ainda é muito prematuro. Depois do carnaval, as candidaturas vão aparecer com maior densidade e mais nitidez. Até lá, só especulação e algumas notícias falsas, embora elas estejam sob severa vigilância dos Judiciário.

O dado interessante é que os dois partidos que constituem o Centrão disputam a presença do candidato Jair Bolsonaro em suas fileiras. Isto significa que os profissionais da política enxergam a possibilidade da reeleição. Sua campanha terá cerca de R$ 5 bilhões para gastar no próximo pleito. Se não acreditassem na possibilidade de vitória, pulariam do barco.

Eles sabem onde colocar as fichas. O notório Roberto Jefferson, que revelou ao país a existência do mensalão e impediu a caminhada de José Dirceu em direção a Presidência da República, volta à cena: “Bolsonaro e Flávio se acostumaram ao dinheiro público”. A objetiva definição de Jefferson explica a luta para permanecer no poder.

André Gustavo Stumpf escreve no https://capitalpolitico.com/

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