Síncope de Pazuello: dias de Mello, Araújo e Ciro (por Vitor Hugo)
Pazuello foi um desastre quase tão calamitoso quanto sua passagem no “comando” da Saúde
atualizado
Compartilhar notícia
A síncope do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que desfaleceu e foi socorrido pelo médico e senador do PSD da Bahia, Otto Alencar, foi fato maior, estranho e de mais destaque jornalístico desta semana de maio, para não esquecer. O mal súbito atingiu o ex- ministro enquanto ele aguardava, em um gabinete do Senado, a retomada de seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 – repleto de contradições, negaças, engodos e pelo menos uma dúzia de mentiras evidentes e anotadas, em contraponto à avalanche de mortos, pela pandemia, que ultrapassa os 440 mil no país.
Destaque, no entanto, dividido com três outros fatos: O depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também na CPI, no Senado; a entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, do atual ministro decano do STF, Marco Aurélio Mello, prestes a se aposentar, e as reações irritadiças e desaforadas do presidenciável ex-ministro do governo Lula (PT), Ciro Gomes, ante os resultados da mais recente pesquisa de opinião do Datafolha, que o coloca em quarto lugar, na preferência eleitoral, na disputa presidencial em 2022. Abaixo do ex-presidente petista, do atual ocupante do Palácio do Planalto e do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Episódios de realce político, jurídico e jornalístico, cada um ao seu modo e propósito, despertaram especial atenção nestes dias de maio, em que se fala de provável terceira onda da pandemia, agora acrescida de terrível nova cepa, originária da Índia, trazida por um navio aportado no Maranhão.Fato revelado no segundo dia de inquirição do complicado ex-ministro da Saúde.
Na quarta-feira, Pazuello foi um desastre quase tão calamitoso quanto sua passagem no “comando” da Saúde. Ele abusou na narrativa de seu indignante amontoado de mazelas, malfeitos, omissões, além de descaso com a inteligência dos brasileiros e à opinião internacional, sem falar do desdém com o poder legislativo, em seu palavreado cheio de “buracos” e desvãos. Por fim, o ex-ministro teve uma síncope, – coisa de que não se tinha notícias desde o tempo dos “romances cor-de-rosa” de M. Delly, – que completou o quadro mambembe e teatral que o ex-ministro protagonizou, motivando o retorno para concluir suas “explicações” na quinta-feira.
Pela TV vi, também, com desconforto e quase completo descrédito, o tortuoso e torturante depoimento de Ernesto Araújo, o recém demitido ministro das Relações Exteriores, sobre as negociações diplomáticas para a (não) compra de vacinas, insumos e equipamentos hospitalares, indispensáveis no combate à pandemia. Que diferença do agressivo e arrogante chanceler, das ofensas à China, seus governantes e ao povo chinês, – pelas redes sociais – para o gaguejante e contraditório depoente da CPI da Covid, que amarelou, principalmente durante a fala da senadora Kátia Abreu, ao traçar sob medida o seu escorregadio e venenoso perfil psicológico.
No meio de tudo, leio no CB a entrevista do decano do STF, Marco Aurélio Mello, que após mais de três décadas de polêmica atuação na suprema corte de justiça e 42 anos de magistratura, está na antessala da aposentadoria, marcada para julho próximo. Mas avisa: “Não morrerei de tédio”.Uma diversificada e relevante conversa jornalística sobre temas candentes da atualidade jurídica, política, social e cultural. Pena que o meu espaço acabou…
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h.@uol.com.br