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Simone e Tasso (Por Hubert Alquéres)

Independentemente dos vaticínios sobre o resultado final, se há algo de novo no ar é a chapa Simone/Tasso

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Simone Tebet e Tasso Jereissati na CCJ do Senado – Reforma da Previdência
1 de 1 Simone Tebet e Tasso Jereissati na CCJ do Senado – Reforma da Previdência - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Foi um parto dolorido e demasiadamente longo. Mas, finalmente, o centro democrático deu sinais de vida, com a possível chapa Simone Tebet/Tasso Jereissati. O nome do candidato a vice ainda precisa ser confirmado pelo PSDB. Os dois têm pela frente enormes desafios. A começar por vencer a descrença disseminada quanto à possibilidade de quebrar a polarização esquerda-direita, dada por quase todos como cristalizada e irreversível.

Estamos a três meses e meio da eleição, mas em um país onde até o passado é incerto, dá-se como favas contadas que a eleição está decidida.

O sentimento de que o eleitorado já está definitivamente posicionado entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro é alimentado pelas pesquisas, que dão a Simone Tebet uma baixíssima intenção de votos.

Tudo isso é verdade, assim como também é verdade que parte importante do eleitorado não a conhece e a rejeição ao seu nome é bem menor do que a dos dois concorrentes líderes das intenções de voto. Não se está aqui negando as pesquisas. Mas os próprios institutos fazem sempre questão de defini-las como um retrato do momento e não um diagnóstico definitivo sobre o resultado das eleições.

Independentemente dos vaticínios sobre o resultado final, se há algo de novo no ar é a chapa Simone/Tasso. Não só porque os dois tem uma trajetória política inatacável e de serviços prestados ao país. Isso até seus adversários reconhecem. Sobretudo, porque podem qualificar o debate, trazendo a disputa eleitoral para a discussão dos reais problemas do país. E oferecer ao eleitorado uma alternativa capaz de ir além do populismo apocalíptico de direita e do populismo saudosista e nostálgico de esquerda.

Pode ainda contribuir para a política deixar de ser um palco de guerra para voltar a ser a forma civilizada da sociedade dirimir seus conflitos. O sentido da candidatura do centro é retomar o fio da meada de nossa história, resgatando algo que está no DNA da nossa formação como nação: a conciliação. O país avançou quando trilhou o caminho da pacificação na transição democrática, quando deixamos para trás 21 anos de ditadura. E em raros momentos a união nacional se fez tão necessária como agora.

Em vez de acentuar as divergências e de potencializar o conflito – como fazem Lula e Bolsonaro -, Simone e Tasso pretendem construir consensos.

Nos últimos embates presidenciais, a disputa eleitoral se deu em meio da retórica do ódio, da exacerbação da divisão dos brasileiros, do nós contra eles. A repetição, em 2022, de uma disputa com as mesmas características poderá comprometer irreversivelmente aquilo que nos conforma como uma nação com a mesma comunhão de destino.

O significado de uma candidatura não se mede apenas pelo seu desempenho eleitoral. No caso da chapa da coligação MDB, PSDB e Cidadania, ela tem o mérito de contribuir para a reorganização do centro, como uma força situada no campo democrático e progressista, capaz de dialogar com os demais sem se descaracterizar.

Nesses tempos em que o pêndulo da política brasileira ora foi para a esquerda e ora para a direita sem parar no meio, o centro perdeu relevância em grande parte por aderir acriticamente a um dos dois extremos. Com isso sumiu da memória dos brasileiros a enorme contribuição que seus partidos deram ao Brasil. Tanto do MDB, na transição democrática, como do PSDB, com o Plano Real e as reformas do governo de Fernando Henrique Cardoso.

A última disputa presidencial, com a vitória de Jair Bolsonaro penalizou profundamente os partidos vértices do centro democrático. Não só pelo desempenho eleitoral desastroso, mas principalmente por não terem expressado nenhuma mensagem de esperança e de renovação. Eleição ganha-se ou não. Mas, mesmo quando se é derrotado, é possível acumular forças e plantar para o futuro. A grande tragédia de 2018 para o centro foi que ele nada acumulou e, em seguida, mergulhou em um processo de desagregação.

Essa tendência pode ser revertida agora e, na hipótese de a vitória eleitoral não vir, é possível plantar o futuro, com um centro democrático revitalizado – fator de estabilidade da vida política nacional.

Não basta apenas ter uma chapa da qualidade de Simone e Tasso, embora isso já seja um passo importante como resposta para o aqui e agora. Para ter protagonismo político, o centro democrático deverá ofertar aos brasileiros um programa capaz de retomar o crescimento econômico, enfrentar a profunda desigualdade social, com compromisso inarredável com a democracia, a qualidade da educação e a defesa do meio ambiente.

 

Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação

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