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Silvio Santos vem ai… (por Tânia Fusco)

Minha primeira matéria como repórter. No meio do caminho, a revista fechou. Ficou na gaveta por 52 anos. É publicada hoje.

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Tony Tornado e Silvio Santos
1 de 1 Tony Tornado e Silvio Santos - Foto: null

Um domingo com Silvio Santos foi minha primeira matéria como repórter. Na minha lembrança foi feita em 1972 para ser vendida à revista Intervalo. No meio do caminho a revista fechou. E a matéria foi pra gaveta das lembranças. Onde, como Bela Adormecida, ficou por 52 anos. Grande, porque relatava 10 horas de espetáculo, está finalmente editada e reduzida.

Aqueles domingos, naquele auditório, eram assim…

 

Porque é domingo tem Silvio Santos para o Brasil inteiro, via Embratel, e para umas 400 mulheres que, no teatro Manuel de Nóbrega, participam das gravações do Programa Silvio Santos – vencedor do Ibope aos domingos.

Eu estive lá. Fui “colega de trabalho” do Silvio Santos. O homem que há 10 anos sorri pela TV, e é, certamente, o sorriso mais amado do Brasil.

Para mim o dia começou às seis da manhã, com cuidadosa sessão de maquiagem – muita sombra azul, rímel carregado, batom caprichado. Calça jeans sob bota até os joelhos e blusa colorida tornavam minha imagem mais televisível.

Nem a simpatia do tio Zé, velho comandante da cuidadosa seleção das “colegas de trabalho”, ameniza o clima de guerra na entrada do teatro. Homem não entra.

Para ganhar lugar nas duas primeiras filas e ter a imagem exibida o domingo inteiro, em cores, é preciso ser bem bonita e jovem, vestir roupas atraentes e coloridas. Prometer disposição para dançar e cantar dez horas seguidas. Essas ganham cadeira cativa, credencial especial para entrar primeiro no auditório e formar a moldura do programa.

Segundo Marli, morena gorducha e falante, bacana mesmo são as duas primeiras filas.  Da terceira fila em diante, a gente dá o que tem, mas, na TV, só aparece como sombra.

Fui sombra. Fiquei na terceira fila com o chamado “povão”. Gente nem tão bonita, nem tão jovem, mas que consegue dar banho de alegria e vibração no time da frente – as mimadas do Roque.

Roque, quase sempre carrancudo, é o maestro da alegria. Aplausos, gritos, vaias só sob seu comando. (Atuação que já lhe rendeu vaga de vereador em Carapicuíba, município-subúrbio de São Paulo).

É no segundo time – o meu – que estão as verdadeiras colegas de trabalho do Silvio Santos. Grupo engrossado pelas as habitantes das redondezas do teatro, convocadas por Silvio, já com o programa em andamento, pra virem lotar o auditório.

Entre nós há veteranas, como Neusa e Maria, que acompanham o programa “do Silvio” desde perder de vista. Conhecem todo o pessoal da produção e são um pouco donas do auditório – a partir da terceira fileira.  Na porta, quebram galho para novatas. Gente que, como eu, não pegou convite antecipado de entrada, na Rádio Nacional.  Ou esqueceu documentos… As apresentadas ao tio Zé como sobrinhas das veteranas têm portas abertas e, bem guiadas, ocupam melhores lugares, conseguem autógrafos dos galãs, e até beijos no-e-do Silvio.

No auditório, nosso trabalho começou antes da chegada Silvio Santos com o ensaio de palmas e comportamento geral comandado, claro, pelo Roque. Apesar de feioso e baixinho, é ele o primeiro galã do dia. Roque está com Silvio Santos desde os tempos da Rádio Nacional – uns 10 anos. Manda no auditório.

Às 10 e meia, o delírio. “Silvio Santos vem aí. Silvio Santos já chegou” cantamos todas sob a regência de Roque. “Vai ser bonito assim lá em casa!” Grita alguém já mais animada. Aplausos e risadas. Atrás de mim, Maria, morena de olhos grandes e expressivos, tocando nos meus ombros, diz sobre seu amado Silvio Santos: Que boca! Como é lindo. E é ruivo o bandido. (Os cabelos impecáveis de Silvio Santos reluzem ruivice tingida).

Começa a gravação do primeiro quadro – Os Galãs. (O programa é todo gravado). Antônio Marcos canta e Roque comanda: a gente aplaude, grita, balança os canudos coloridos, recebidos na porta, que ajudam a enfeitar o visual do auditório. Ao som do galã, dançamos abraçadas, transformando cada fileira num cordão de alegria.

A alegria é a credencial básica para participar do programa. “Ou venham alegres ou fiquem em casa”, diz o apresentador logo depois do seu Bom dia.

E só se percebe alegria na plateia, cansaço e fome à parte. Pra aguentar o dia inteiro recebemos um pacotinho de Lanches Mirabel, um bombom, e um iogurte Chambourcy. Também água e café – este acaba. Água não.

Há quem leve seu próprio lanche. Inclusive partes do tradicional frango com farofa. Generosas, oferecem a quem está sentada próxima.

Todos os galãs do dia merecem a mesma recepção.  Maria continua me pegando pelos ombros e gritando “lindo” para Silvio Santos. Ele é o grande ídolo de todas. Pra ele aplausos e gritos são absolutamente espontâneos.

Vanusa é a convidada dos Galãs. Quando ela entra no palco, Antônio Marcos, seu ex-marido, se retira. Antes do segundo número, Vanusa defende: Esta é pra mulher brasileira, para que o divórcio venha para o Brasil.

Minha colega de trás reage na bucha e resmunga: Ah desgraçada! Divórcio pros homens ficarem ainda mais galinhas, é? Mas a maioria aplaude a proposição da cantora.

No encerramento do quadro Galãs, as colegas de trabalho pedem a volta de Antônio Marcos ao palco e Silvio dá satisfação: “Em briga de casal eu não meto o bico”. E emenda uma tremenda bronca no diretor de TV que não consegue dar uma tomada geral dos galãs.

A cena é repetida várias vezes, mas acaba indo ao ar sem satisfazer o patrão. Ao meu lado, Laura se extasia: Como ele fica lindo fazendo biquinho de braveza…

Os intervalos, enquanto preparam o palco para o próximo quadro, são a verdadeira festa do auditório. Silvio fica por ali, distribuindo sorrisos e fazendo piadinhas com as “colegas de trabalho”. Um delírio.

Roque lembra que só se pode vaiar na hora do Quem Sabe Mais? Quadro em que dois artistas, um homem e uma mulher, lutam pelo troféu de melhor. Silvio, no seu papel, torce descaradamente pelo homem. Nós, suas colegas de trabalho, temos de torcer obrigatoriamente pela mulher. Aí é permitida a vaia até no Silvio.

Passa mais um quadro – o Arrisca Tudo. Mais um intervalo e Silvio aproveita para fazer enquete com o auditório: No domingo passado quem viu Os Trapalhões, na Tupi? E quem viu o Fantástico, na Globo? A maioria levanta a mão para o Renato Aragão. Silvio sorri e diz para alguém nos bastidores. “Viu? O Ibope não deu isso”.

E as perguntas continuam: “Se eu colocar o Boa Noite Cinderela no mesmo horário da Disneylândia (programa de desenhos da Globo), qual vocês vão ver?” Cinderela ganha. A colega Maria me cutuca: A gente é mais ele, né?

Caramba! São duas horas da tarde, quase quatro de programa e a fome aperta. Tomo muita água. E desconfio que todo mundo faz o mesmo. Há congestionamento nos dois únicos banheiros do auditório de 500 lugares. Muita gente cruza as pernas nervosamente, feito criança, e não falta quem bata na porta e apresse com o tradicional: É pra hoje!

É na fila do banheiro que rolam trocas de fotos dos ídolos. Alguém me oferece dois Edy (Carlos) por um Sergio Sampaio. Perdi. Não tinha o valioso Sergio Sampaio do sucesso Quero-é-botar-meu-bloco-na-rua…

Com a nossa preciosa participação os quadros vão sendo gravados. Viva o Samba, quando as colegas vão sambar no corredor do auditório, tentando roubar uma tomada de câmera. Acontece o Boa Noite Cinderela, o Show de Calouros. Palmas para o geniozinho do mini júri, palmas pro vozeirão do pequeno Nelson Ned…

Às 8 da noite, Silvio Santos e seu sorriso, sem nem um sinalzinho de cansaço, encerram o programa com um Boa Noite tão alegre e animado como foi o Bom Dia das 10 da manhã.

Vai todo mundo pra porta do auditório na esperança de roubar um beijo, um toque no Silvio Santos. Tímida, não consegui. Neusa conseguiu. Maria eu perdi de vista.

Honra seja feita, não falta a Silvio Santos carinho e paciência com o cerco das colegas de trabalho. Domingo que vem tem mais.

 

 

 

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