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Rui Costa escapa da “maldição das Cigarras de Ondina” (por Vitor Hugo)

Rui deixa o governo da Bahia para assumir novo leme de gestão

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Rui Costa no gabinete de transição indo falar com Alckmin / Metrópoles
1 de 1 Rui Costa no gabinete de transição indo falar com Alckmin / Metrópoles - Foto: Deborah Hana Cardoso / Metrópoles

Escolhido para o posto de ministro chefe da Casa Civil – e já em atividade, dando as cartas ao seu estilo (“turrão” e “duro”, segundo adversários estaduais) no planalto central do país, na montagem do novo governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, – no seu terceiro mandato, no Palácio do Planalto –, o governador Rui Costa (PT) pode se gabar de muitas coisas (feitos e desfeitos de sua gestão em dois mandatos seguidos). Uma delas é deixar o governo da Bahia, para assumir novo leme de gestão, sem ter passado pela temida “Maldição das Cigarras do Palácio de Ondi­­na”, de que fala a emblemática crônica sobre o cotidiano e a tradição da política local, de autoria do escritor, jornalista e ex-deputado, Raimundo Reis: criador de grandes polêmicas e rasgos brilhantes de inteligência em seus discursos da Tribuna da Assembléia Legislativa, quando Antônio Balbino era quem mandava no estado.

A exemplo da frase que o celebre colunista do Jornal do Brasil, Carlos Castelo Branco, Castelinho, considerava a mais exemplar e genial para definir a fauna de parlamentares e governantes que habitava o antigo PSD, tentacular partido extinto pela ditadura de 64 (que baniu a agremiação e Raimundo da política). Dizia: “diante da opção entre os ensinamentos da Encíclica “Rerum Novarum”, do papa Leão XVIII, e os caminhos e desvios apontados pelo Diário Oficial, o pessedista opta pelo D.O., sem pestanejar”. Prodigioso filho de Santo Antônio da Glória, nas barrancas do São Francisco, rio que passa por minha aldeia, Raimundo narra, em refinado estilo de leitor inveterado de Balzac, a solidão de notáveis ex-donos do poder, no abandono dos fins de mandato. Em geral depois de derrotados nas urnas, o que afastava amigos, parentes e principalmente políticos palacianos que não faltavam, em tempos de vacas gordas, no gabinete repleto de favores e mesas fartas, (a começar pelo acarajé mais saboroso de Salvador), de que Ondina sempre teve fama. Restava então a sinfonia das barulhentas cigarras nos ouvidos dos poderosos.

Ensurdecedoras e infernais cigarras, em fim de estação, que infestavam o belo jardim em frente ao casarão, de estilo grego, construído no cume da colina, no centro do parque destinado a experiências em Botânica. No começo da década de 1940, o governador Landulfo Alves assinou a aquisição do casarão no Alto de Ondina e, em 1967, o governador Lomanto Junior – em meio aos rugidos da ditadura em volta do Palácio da Aclamação, no centro da capital, transferiu a residência oficial para o antigo casarão reformado, onde morava o administrador do Campo de Experiências Botânicas.

Desde então, todos os chefes do governo baiano passaram por lá, convivendo em maior ou menor intensidade com a “maldição”, de que fala Raimundo Reis: Lomanto Junior, Luiz Viana Filho, Roberto Santos, Antônio Carlos Magalhães, Waldir Pires, Nilo Coelho, Jaques Wagner e Rui Costa, que passa o Palácio de Ondina para o companheiro de partido e afilhado político, Jerônimo Rodrigues, e se muda para Brasília, onde, no primeiro dia de 2003 assumirá o novo posto cercado de aliados e seguidores diversos, entre os quais parlamentares e gestores que conhecem a força do Diário Oficial nas mãos de um ministro da Casa Civil. Vai de um a outro ponto do mando, sem ter sido incomodado pelas azucrinantes cigarras do desespero de outros colegas. O resto a ver.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br

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