Roma: Troia de Bolsonaro no reino de ACM Neto (por Vitor Hugo Soares)
O ministro da Cidadania adianta que dará palanque a Bolsonaro, em 2022, na Bahia (porta de entrada ao cobiçado filão de votos na região)
atualizado
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Espécie simbólica e atual do cavalo de Troia, em tempos temerários da Covid-19 e do bolsonarismo, o deputado João Roma, eleito com empenho a ferro e fogo de ACM Neto, então prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, aportou na Bahia, semana passada, como o diabo gosta. E, a exemplo do que tem feito, de forma cada vez mais audaciosa e desafiadora, vestido na pele de todo poderoso ministro da Cidadania, partiu para cima do antigo “padrinho e irmão” (como ele chamava Neto, em passado recente, antes de virar novo ponta de lança do mandatário sem partido, Jair Bolsonaro). O novo adversário figadal do neto de ACM (“o original”, no dizer de Mario Kertész) confirmou, em polêmica entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, sua candidatura a governador do estado, já anunciando a prioridade de seu programa de campanha: “A Bahia precisa de um governo que tenha um olhar especial para a segurança”, em manchete do diário baiano.
Sacudiu o sossegado e, até poucos dias, previsível terreiro do quarto maior colégio de votos do país: com o PT (do ex-presidente Lula e do governador Rui Costa), no palanque do senador e ex-ministro Jaques Wagner, que tenta voltar ao Palácio de Ondina, à esquerda; e ACM Neto, do DEM agora unido ao PSL (União Brasil), na centro-direita. E eis que o inesperado faz uma surpresa com o personagem que parece saído dos livros de história sobre a guerra dos gregos contra Troia nos cordéis nordestinos. O ex-amigo “do peito, tido como aliado fiel”, de repente, aparece em Salvador para bagunçar o coreto.
Mas, diga-se desde já: o chefe do Palácio do Planalto, em campanha permanente para seguir onde está por mais quatro anos, e seu cavalo de Troia (ou “traíra”, como aliados de ACM Neto qualificam Roma atualmente) não enfrentarão amadores nessa guerra política e de poder já em curso. O ministro da Cidadania adianta que dará palanque a Bolsonaro, em 2022, na Bahia (porta de entrada ao cobiçado filão de votos na região). O pernambucano Roma, eleito um dos deputados federais mais votados pelos baianos, graças a Neto, provoca: “Na Bahia, o presidente Bolsonaro precisa ser difundido e defendido. Eu trabalho sempre para carregar essa bandeira. Nosso estado, infelizmente, é líder, por longos anos, do ranking de homicídios no país, à frente de estados mais populosos, a exemplo de São Paulo e Minas Gerais”. Precisa desenhar?
Ainda no posto de presidente do DEM, às vésperas de viajar a Brasília para fundação da nova legenda, União Brasil (a maior bancada da Câmara), Neto – sem citar Roma e sua entrevista na Tribuna da Bahia – fez declarações, publicadas na imprensa local e nacional, que apontam para um grande embate no estado, no ano que vem, não só contra o PT, adversário tradicional e previsível, mas também contra Roma, “o presente de grego” de Bolsonaro.
Melhor avaliado, até o momento, nas pesquisas para governador, ACM Neto garante: o União Brasil terá projeto político independente e não ficará sob as asas do bolsonarismo. “Nosso caminho é ter candidato próprio à Presidência. Esse partido não nasce debaixo das asas do governo e não há nenhum interesse de estar fazendo jogo com perspectiva de negociar o que quer que seja com o governo”, disse Neto, dia 5, em live promovida pelo Uol. O ex-prefeito de Salvador diz que o novo partido tem tempo para amadurecer um nome para presidente, sinaliza que será um candidato da terceira via e que a ele agrada o nome de Ciro Gomes. O resto a conferir!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bafia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br