Reflexões de um 8 de março de uma mãe de três Marias (Marília Arraes)
Dizem que os hormônios da gestação acentuam ainda mais os sentimentos e as percepções. E mais que nunca eu acredito nisso
atualizado
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O 8 de março sempre foi para mim, desde muito jovem, um dia de reflexão. Um momento de pensar nas lutas, nos desafios, nas conquistas, nos sonhos e no futuro. Ah, o futuro. Este ano essa palavra – que já tem um significado tão forte, ganhou ainda mais destaque. Enquanto escrevo estas linhas vejo o futuro ao meu lado – enquanto observo minhas filhas, Maria Isabel, de sete anos, e Maria Bárbara, de um ano e dois meses brincando. E sinto também, dentro de mim, minha terceira Maria, a Magdalena, que virá ao mundo nos próximos dias. Como não sentir e não deixar fluir essa emoção tão grande de ser mulher e, como mãe, poder ser conexão à vida das minhas três Marias?
Dizem que os hormônios da gestação acentuam ainda mais os sentimentos e as percepções. E mais que nunca eu acredito nisso. Hoje, mais madura do que quando fui mãe pela primeira vez e até pela segunda – depois de tanto que aconteceu no último ano – sinto não só uma força descomunal, mas também um desejo imensurável pela vida. Porque a gente só segue na luta se tiver muito amor no coração e, principalmente, a consciência de que estamos aqui para fazer o imediato, mas, também, trabalhar para que as que vêm depois de nós pisem em caminhos menos tortuosos que os nossos.
Ao longo de minha vida pública pude defender os direitos das mulheres por muitas vezes. Porém, como deputada federal, tive oportunidade de estar nas trincheiras contra um governo fascista e misógino, que atacou diretamente os direitos das mulheres. Entre tantas dificuldades, enfrentamos diversos obstáculos para aprovação da Lei da Dignidade Menstrual, de minha autoria, que veio para mudar paradigmas e impactar a vida de milhões de meninas e mulheres. Hoje, Dia Internacional da Mulher, o Presidente Lula, que lutei tanto para eleger – vem fazer essa reparação histórica e regulamentar um projeto tão importante. Esperemos que as próximas gerações sequer lembrem de tanta dificuldade e que todas possam acessar artigos de higiene menstrual gratuitamente, como uma das mais genuínas formas de reparação da desigualdade de gênero. Pelo fato de estar esperando minha terceira Maria, não posso estar lá pessoalmente. Mas estou comemorando por ver melhorar a vida de tantas Marias Brasil afora.
Vitórias e derrotas eleitorais fazem parte da democracia. Não podemos é abrir mão é das vitórias e avanços de todas nós, brasileiras, numa construção de tantas que vieram antes de nós e num caminho ainda tão longo que temos pela frente.
Marília Arraes foi deputada federal por Pernambuco e candidata ao Governo do Estado em 2022